“O branco era porta-voz do povo, hoje o povo fala por si”, afirma Fernanda Torres

Reflexão da atriz no ‘Roda Viva’ ressalta a importância da representatividade na tela das emissoras

10 jan 2024 - 11h47

O Brasil é composto por uma maioria excluída. Na prática, o povão exerce pouco poder. As rédeas do país continuam nas mãos de uma elite insensível às reivindicações da numerosa base da pirâmide. 

Uma coisa mudou para melhor: qualquer um se manifesta usando as redes sociais. Pode fazer eco em seu microcosmos e até viralizar. Outra evolução está na velha TV, o mais popular veículo de comunicação de massa. 

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Agora, a diversidade racial e étnica faz parte da programação. Veja o recente sucesso de ‘Vai na Fé’, novela das 19h da Globo com elenco composto por maioria de negros. Discutiu-se o racismo sem fazer ativismo forçado nem partidário. 

Nas bancadas de telejornais há pretos de black power, como Cynthia Martins do ‘Jornal da Band’. Comentaristas de pele escura não aparecem apenas sazonalmente para falar de futebol e Carnaval, como até pouco tempo. Agora são exemplos de pensadores sobre educação, economia, meio ambiente e outros temas relevantes. 

O povo está diante das câmeras de TV – e quer ainda mais protagonismo na mídia. 

No ‘Roda Viva’, apresentado por Vera Magalhães na TV Cultura, a atriz e escritora Fernanda Torres fez uma reflexão certeira a respeito dessa tomada de espaço tão necessária, que desconcerta aqueles que se achavam donos da voz da maioria silenciada. 

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“O intelectual branco antes era o porta-voz do povo. Era livre, superior e porta-voz do povo. Hoje, o povo fala por si”, disse. A artista admitiu o impacto dessa mudança social que tirou parte da influência da branquitude. “Quem está meio perdido hoje é esse branco libertário, são pessoas como eu.” 

Durante décadas, a televisão mostrou o povão – formado majoritariamente por pretos e pardos – como incapaz de pensar a própria existência. Essa gente estava sempre à sombra de brancos, como os empregados subalternos e os escravizados açoitados nas novelas da Globo. 

O mundo mais do que mudou, ele capotou. A maioria antes calada à força agora fala, critica, exige e conta sua história. Programas como o ‘Avisa Lá que Eu Vou’, comandado por Paulo Vieira no GNT, mostram esses brasileiros anônimos agora heróis da própria existência. Dispensam mensageiros. 

Precisamos de mais atores e intelectuais como Fernanda Torres. Gente privilegiada que reconhece o valor da multidão e defende o direito de cada cidadão de ser individualizado. 

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Não é necessário calar os brancos. Basta deixar que os negros também falem livremente e sejam ouvidos. Os microfones da televisão precisar estar cada vez mais acessíveis a isso. 

Fernanda Torres no 'Roda Viva': o povo agora não precisa de intermediários para se expressar
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Foto: Reprodução
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