O gay que quer namorar sério não tem 1 minuto de paz, mostra série cômica

A espanhola 'Smiley', na Netflix, é uma grata surpresa por usar o bom humor para destacar a dificuldade de se relacionar no universo LGBT+

12 dez 2022 - 10h09

Ao preencher seu perfil, o usuário do Grindr é questionado sobre o que pretende. As opções são: Conversa, Encontros, Amigos, Contatos, Agora, Relacionamento.

A última alternativa é a mais improvável de ser atingida. Mesmo assim, muitos homens gays alimentam a esperança de encontrar um namorado no aplicativo.

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A frustração gerada por essa busca faz o barman Álex (Carlos Cueva) cruzar o caminho do arquiteto Bruno (Miki Esparbé) na série 'Smiley', disponível na Netflix.

Os dois querem viver um grande amor. O clima sensual de Barcelona ajuda, mas as tentativas anteriores não deram em nada. O coração de ambos está ferido.

Quando finalmente se encontram, surgem alguns conflitos. A começar pelos estereótipos. Álex é o 'padrão' desejado: explicitamente bonito, malhado (frequenta duas academias) e sensual.

Intelectualizado, o magrelo Bruno representa o homossexual da elite, bem-sucedido, mais interessado em cultura do que balada. Tais diferenças suscitam conflitos.

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A paixão não concretizada acaba envolvendo outros homens. O resultado: mais gente emocionalmente atingida.

"Álex e Bruno são a exemplificação de que pessoas boas machucadas machucam todos ao redor", comentou @psa.domingos no TikTok.

Álex e Bruno, o casal de 'Smiley': querer namorar nem sempre é o suficiente
Álex e Bruno, o casal de 'Smiley': querer namorar nem sempre é o suficiente
Foto: Divulgação/Netflix

'Smiley' acerta ao ressaltar a frequente superficialidade nos relacionamentos afetivos entre homossexuais, apesar de tantos deles declararem o desejo de namoro sério ou casamento.

Mostra a pressão do grupo por estética: parte significativa dos gays quer o 'namorado perfeito' que sirva de troféu para ser exibido aos amigos e inimigos.

Destaca o sofrimento de quem não se enquadra nas exigências da maioria, o drama de envelhecer em um meio que hipervaloriza a juventude e o dilema sobre manter uma relação monogâmica ou abri-la a experiências.

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Toca em outro tema delicado: namorar alguém apenas para não se sentir sozinho. Às vezes, nem há amor e atração sexual, porém, a pessoa prefere um relacionamento morno do que ficar só.

Paralelamente, correm outras tramas de pessoas — a maioria LGBT+ — em busca de autoaceitação, acolhimento familiar e reacender a chama do desejo a dois.

O roteiro bem costurado é valorizado pela edição ágil com efeitos interessantes. Há bom humor e estimulantes cenas de sexo.

A série ambientada em Barcelona poderia se passar em qualquer outra cidade: as situações são comuns no meio LGBT+
Foto: Divulgação/Netflix

A série baseada em livro de sucesso do jornalista e dramaturgo Guillem Clua conta com o carisma de Carlos Cuevas, 26 anos, famoso por interpretar o também gay Pol na série 'Merlí'.

Com músculos cobertos por insinuantes regatas, o ator tem aquele magnetismo irresistível que nenhuma escola de atuação ensina. Sorri com os olhos.

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Aos 39 anos, Miki Esparbé entra com o charme de quem seduz com o bom papo, a inteligência, a sensualidade não óbvia.

Em 8 episódios curtos (30 a 40 minutos), 'Smiley' é um convite a uma maratona ao lado de alguém especial ou com um grupo de amigos.

Caso falte companhia, ok, não tem problema. Mas o espectador solitário pode sentir uma pontinha de melancolia.

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