A Globo não vê problema em demitir ou dispensar, mas pode reagir mal quando um de seus contratados decidir ir embora por espontânea vontade.
Aconteceu com um dos apresentadores de telejornal e locutores publicitários mais famosos do Brasil.
Quem relatou a história foi Silvio Santos, ele próprio um ex-global que sentiu na pele uma retaliação.
“Eu, uma vez, contratei o Sergio Chapelin (foi em 1983). Ele disse para mim que queria ser animador de programas”, contou no palco do SBT, muitos anos atrás.
“Um ano depois, quando terminou o contrato, ele veio e disse: ‘Silvio, não vou ficar. A Globo não deixa que os meus comerciais entrem lá, e onde eu ganhava muito era com os meus comerciais’.”
Chapelin teria explicado a decisão de voltar ao antigo canal. “Lá, eu ganho menos de ordenado, mas ganho mais quando meus anúncios são colocados na Globo”, afirmou, de acordo com Silvio.
O dono do SBT contou ter ligado para o proprietário da Globo, Roberto Marinho. Fez um apelo para que artistas de outras emissoras tivessem comerciais exibidos no canal carioca.
O ‘Homem do Baú’ sabia do drama por experiência própria. Em 1976, quando decidiu deixar a Globo, onde locava horário para exibir sua atração, e ir para a TV Tupi, ele enfureceu os executivos da emissora.
A Globo proibiu qualquer citação a ele na programação. Quando inaugurou o SBT, em 1981, a concorrente proibiu seus artistas de aparecer no canal de Silvio.
A relação entre as duas TVs só se tornou amistosa em 1988, quando o dono do SBT foi até o Rio pedir pessoalmente a Roberto Marinho para reverter a contratação de Gugu pela Globo.
Depois de 11 anos sem se falar, os dois poderosos empresários selaram a paz.
Naquele mesmo ano, a rivalidade ainda fez uma vítima. Em fim de contrato, Jô Soares comunicou à direção da Globo que havia recebido uma proposta do SBT.
Em uma entrevista a Marília Gabriela na Band, ele contou ter esperado 15 dias por um posicionamento da emissora.
Sem resposta, aceitou o convite de Silvio Santos — e teria sido ‘ameaçado’ de boicote por um influente diretor da Globo.
Pouco depois, no ‘Troféu Imprensa’, o humorista fez um desabafo contra a antiga casa citando um artigo escrito por ele e publicado no ‘Jornal do Brasil’.
“Com impecável senso de oportunidade, a TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar a sua lista negra”, leu diante de Silvio Santos e do auditório.
“Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora, corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que estes lá não serão veiculados.”
Em outro trecho, Jô revelou que até as chamadas pagas de seu novo espetáculo haviam sido rejeitadas pela Globo. As portas estavam totalmente fechadas para ele.
A mágoa do apresentador e comediante demorou a passar. Ele voltou à Globo no ano 2000, onde comandou seu talk show por 16 anos. O diretor que o havia humilhado não trabalhava mais no canal.
No momento, quem sente o desprezo da emissora líder em audiência é Regina Duarte. Seu nome e sua imagem são evitados a todo custo na empresa onde atuou por 50 anos.
Em fevereiro de 2020, a atriz saiu da TV para ser secretária da Cultura do governo de Jair Bolsonaro. Ficou no cargo apenas 77 dias. A relação com a Globo nunca mais foi a mesma.
O auge da punição à artista aconteceu em dezembro do ano passado, quando ela foi ignorada no especial de 70 anos das telenovelas, apesar de ter sido uma das maiores estrelas do gênero na emissora.
Em 2019, Sergio Chapelin se aposentou após muitos anos no ‘Globo Repórter’. Ganhou um contrato vitalício em retribuição aos serviços prestados ao canal.
Mesmo fora da emissora desde 2017 (ele ficou mais 1 ano contratado depois do fim de seu programa), Jô continuou reverenciado na TV da família Marinho.
O Globoplay prepara a série documental ‘Beijo do Gordo’ em homenagem ao apresentador, que morreu em 5 de agosto, aos 84 anos.
Icônico, Silvio Santos é frequentemente citado na Globo, sempre de maneira positiva. A rivalidade ficou no passado.
Será que o cancelamento imposto a Regina Duarte também vai passar um dia?
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