Ao vivo, o porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro, tenente-coronel Marco Andrade, pediu aos canais de TV para interromper imediatamente a transmissão de imagens do ônibus ocupado por um criminoso que mantinha 17 reféns após balear duas pessoas na Rodoviária Novo Rio.
Explicou que o bandido tinha um celular e acompanhava a cobertura do caso em tempo real. A solicitação do representante da PMRJ foi atendida. Canais passaram a exibir outros ângulos da rodoviária, sem mostrar o veículo onde passageiros estavam sob a mira de uma arma.
Poucos minutos depois, o mesmo policial ressurgiu diante das câmeras para anunciar o fim da ocorrência, com a captura do “tomador de reféns” por homens das forças de segurança do Estado.
Na GloboNews, a âncora Julia Duailibi informou a solução do caso antes da confirmação oficial por meio das fontes da equipe do telejornal. No jargão jornalístico, foi um “furo”, notícia em primeira mão.
Este caso traz à memória dois fatos parecidos. O primeiro, conhecido como ‘sequestro do 174’, terminou com 2 mortos (o bandido e uma mulher feita de escudo por ele) em 12 de junho de 2000, no Jardim Botânico, bairro da zona sul carioca.
No outro, em 20 de agosto de 2019, o sequestrador de um coletivo parado na ponte Rio-Niterói foi morto por um atirador de elite. Nenhum refém se feriu.
Nessas duas ocorrências houve cobertura ao vivo, inclusive do momento das mortes. Algumas emissoras foram acusadas de sensacionalismo por explorar a desgraça em busca de audiência.
Para a imprensa, acompanhar este tipo de acontecimento gera um dilema: mostrar ou não as imagens ao vivo? Corre-se o risco de flagrar uma tragédia e horrorizar os telespectadores, além de expor as vítimas.
Outro problema, como apontou o porta-voz da PMRJ, é beneficiar o criminoso com informações. A visibilidade na mídia pode fazê-lo se sentir empoderado e dificultar a negociação.
O público merece receber a atualização da ocorrência, porém, a prioridade deve ser sempre a preservação da vida dos reféns e o trabalho dos policiais. Os jornalistas precisam atuar sem atrapalhar.
Mas hoje existe um complicador: qualquer pessoa com um celular pode iniciar uma ‘live’ em sua rede social ou app de vídeos. Foi o ocorreu na Novo Rio.
Pela TV, vimos dezenas de cidadãos com o aparelho apontado para o ônibus. A ética não deve ser cobrada apenas dos profissionais de imprensa. As pessoas anônimas também precisam agir com responsabilidade.