Odiada, Bibi é a melhor personagem do ano na teledramaturgia

Ambígua e complexa, a ‘baronesa do crime’ subverteu a imagem de protagonista ‘do bem’

25 set 2017 - 13h27
(atualizado às 13h31)

“Cuidado com as ilusões, mocinha, profundas e enganosas feito o mar”, escreveu o romancista, jornalista e dramaturgo Caio Fernando Abreu (1948-1996), um pensador que faz falta à inteligência do País.

Ao mesmo tempo forte e suscetível, Bibi se autodestrói em nome de um amor doentio
Ao mesmo tempo forte e suscetível, Bibi se autodestrói em nome de um amor doentio
Foto: Maurício Fidalgo/TV Globo / Sala de TV

A frase serve como luva para Bibi, a esposa iludida de ‘A Força do Querer’. Em consequência do amor patológico pelo marido bandido, Rubinho (Emílio Dantas), ela abandonou a honestidade, a ética e a autopreservação.

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Renunciou a tudo o que zelava enquanto estudante de Direito para se tornar um ‘soldado’ do crime.

Para ela, a delinquência compensa se servir para a manutenção de seu casamento e a conquista da vida confortável com a qual sempre sonhou.

Mas ainda há uma centelha de correção em Bibi: às vezes se autoflagela em crises de consciência suscitadas pelos alertas da mãe, a sensata Aurora (Elizângela).

Gosta do status conquistado com a bandidagem, mas ainda exibe pudores incompatíveis com o meio cruel no qual se meteu: não foi capaz de atirar contra um anônimo que tentou enganar a gangue de seu protetor Sabiá (Jonathan Azevedo).

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Trata-se de uma anti-heroína complexa poucas vezes vista em telenovelas. O telespectador ama odiar Bibi.

Gloria Perez ousou ao colocar como protagonista de ‘A Força do Querer’ uma personagem pela qual a maioria do público torce contra: a quer presa ou morta, naquele ‘justiçamento’ típico da passionalidade brasileira.

Em outro aspecto de sua trama, Bibi enfrenta um drama comum às mulheres: a concorrência feminina e a desvalorização imposta por muitos maridos.

Ela se faz de altiva e inabalável, mas sofre com o cerco da ‘novinha’ Carine, papel de Carla Diaz. Na vida real, quantas esposas já não foram trocadas por ninfetas do tipo?

No fundo, sabe que no menor descuido perderá o homem de sua vida – e seu castelo de areia vai ruir. Neste ponto, de nada vale o tal ‘empoderamento’ da Perigosa. Bibi se martiriza como qualquer mulher ameaçada.

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E há ainda a paixão mal resolvida por Caio (Rodrigo Lombardi), cuja figura representa a vida perfeita que ela poderia ter tido e também a justiça contra sua escolha pela ilegalidade.

E assim, às vezes no auge e, no minuto seguinte, extremamente fragilizada, Bibi exala dubiedade, contradições e incertezas.

O público pode não gostar dela, mas é a melhor personagem da teledramaturgia brasileira vista até aqui neste ano. Juliana Paes merece aplausos e prêmios por atuação tão competente.

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