Em ‘A Gata Comeu’, trama produzida em 1985 e recém-reprisada com ótima audiência no canal Viva, a doméstica Televina, interpretada pela atriz Kleber Macedo, era viciada em novela e nas notícias sobre os artistas.
Elisa, a sonhadora dona de casa vivida por Tássia Camargo em ‘Tieta’ (1989-1990), exibida atualmente no mesmo canal, usa a fantasia da televisão e o glamour das celebridades para colorir uma vida em sépia no sertão.
Ainda que caricatas, as duas personagens representam a paixão do brasileiro pela telenovela e o uso que ele faz da ficção para se entreter. Os folhetins são quase terapêuticos: servem como escapismo diário para a dureza da vida real.
Todas as novelas no ar atualmente, na Globo, SBT, Record e Band apresentam audiência dentro da expectativa. Não há nenhum fracasso.
‘A Força do Querer’ se mantém no topo do ranking. O capítulo de segunda-feira (22) marcou média de 36.5 pontos, recorde desde a estreia.
Na reta final, ‘Rock Story’ tem ficado constantemente na casa dos 30 pontos. A trama das 18h, ‘Novo Mundo’, se mantém estável, com satisfatórios 23 pontos de média.
‘Carinha de Anjo’ e ‘O Rico e o Lázaro’ sofreram perda de público com a saída de SBT e Record de várias operadoras de TV paga. Mas ainda estão com média de 10 pontos, índice aceitável, ainda que abaixo do potencial das duas produções.
Na Band, a turca ‘Ezel’ tem 2.5 pontos no Ibope, número positivo para os padrões da emissora e na comparação com as antecessoras na mesma faixa.
Entre as muitas reprises, destaque para ‘Chiquititas’ (SBT) e ‘A Escrava Isaura’ (Record), ambas com 10 de média – a mesma audiência das inéditas desses canais.
Ainda que não haja nenhum fenômeno de popularidade entre as novelas atuais, como foram ‘Avenida Brasil’ (Globo, 2012) e ‘Os Dez Mandamentos’ (Record, 2015), o gênero ainda é bastante consumido na maioria dos lares brasileiros.
A telenovela faz parte do DNA da nossa televisão, assim como os seriados são a principal força da TV americana. Aqui, criou-se o hábito de manter o aparelho ligado mesmo quando a pessoa está fazendo outra atividade na casa.
O jantar de muita gente acontece ali, diante da TV: uma garfada na comida seguida de uma espiada nos romances e dramas de galãs e heroínas.
A televisão tem ainda a função de companhia. No Brasil, 15% da população são formados por pessoas que moram sozinhas. Muitas delas fazem das histórias das novelas um analgésico contra a solidão.
Pesquisa da GfK mostra que, na maioria das regiões do País, os telespectadores elegem o jornalismo como gênero preferido na TV.
Sinal do tempos: vivemos uma época de overdose de notícias, especialmente a respeito de política e corrupção. Todo mundo precisa se atualizar diariamente sobre os escândalos, as prisões, as delações, os julgamentos.
Contudo, a boa e velha novela, ainda que desgastada, ainda gera bem mais audiência e um faturamento milionário capaz de sustentar outros departamentos de uma emissora, inclusive o tão prestigiado jornalismo.