Muita encenação, pouca comoção. Os diretores da cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris quiseram inovar, mas a ambição produziu um espetáculo picotado e com excesso de material gravado.
Espalhar os números musicais pelas margens do Sena parecia interessante, porém, na prática, ficou confuso e o impacto perdeu força devido às intermináveis interrupções do ‘ao vivo’ para exibição de cenas de dramaturgia.
Em vários momentos, a geração de TV parecia perdida, apenas com imagens à distância, sem valorizar detalhes. A pressa em mostrar o máximo de pontos turísticos da cidade e pular de uma atração a outra ofuscou o rico contexto histórico que costuma ser destacado nas aberturas dos Jogos.
A figura do mascarado misterioso com a tocha acesa foi tão usada que ficou cansativo. A chegada da noite piorou a visibilidade e a identificação do que acontecia nas águas e laterais. O roteiro confuso com ações aleatórias minou a expectativa.
O acesso restrito por questões de segurança gerou buracos nas áreas destinadas ao público. Faltou o imprescindível coprotagonismo das arquibancadas empolgadas. A cerimônia se assemelhou a um filme noir: presunçosa, desconexa e fria. Deu saudade dos espetáculos coerentes e de fácil assimilação nos estádios.
Na Globo, momentos de bate-cabeça. Convidado especial, Galvão Bueno não se controlou e quis falar mais do que o locutor oficial da transmissão, Luís Roberto. O correspondente Guilherme Pereira teve pouco espaço para dar sua visão como morador da cidade. Em algumas tentativas, foi ignorado e interrompido.
Atualização: a parte final da cerimônia, com o rodízio de atletas segurando a tocha até a pira em formato de balão, e Céline Dion cantando 'L'Hymne à l'amour', de Edith Piaf, direto da Torre Eiffel, compensou os momentos monótonos das primeiras horas.