A televisão tem o poder de fazer e desfazer biografias. Pode ainda ser um eficiente instrumento de reabilitação de imagem pública. Basta saber usá-la – ou manipulá-la, se o leitor preferir.
Aécio Neves gravou um vídeo para se defender das acusações de corrupção lançadas pela delação do empresário Joesley Batista, dono do grupo JBS.
Lendo um texto em um teleprompter, o senador tucano assumiu o papel de vítima de si mesmo e alvo de uma armação para prejudicá-lo. Parecia um injustiçado de folhetim.
A gravação foi exibida em todos os telejornais, dando muita visibilidade ao mea culpa feito pelo presidente licenciado do PSDB.
Apesar do discurso de arrependimento, o vídeo falhou em naturalidade. Aécio estava tenso, preocupado em ler palavra por palavra e demonstrar sofrimento excessivo.
Faltou a espontaneidade do ‘olho no olho’, imprescindível para convencer o telespectador da veracidade do discurso e das intenções.
Em pronunciamentos e entrevistas, Michel Temer também desperdiça a força quase ilimitada da TV.
Preocupa-se tanto na escolha das palavras, nas conjugações, na erudição do pensamento, que esquece o básico: comunicar-se de maneira clara com aqueles milhões de brasileiros que têm dificuldade de interpretar um texto simples.
A televisão exige objetividade de imagem e texto. O público quer a informação já ‘mastigada’. Não se fazer entender – ou forjar um personagem pouco convincente – é meio caminho para perder apoio.
Dilma Rousseff cometeu o mesmo erro de Temer: teve falhas na sua comunicação às massas.
A então presidente não aproveitou a vitrine gigantesca da TV para conquistar mais apoio popular a fim de se manter no cargo.
A correção de seus tropeços diante dos microfones poderia ter sido feita com um media training, o treinamento dado a quem precisa se comunicar de maneira eficiente com a imprensa e o povo.
Para um político em apuros, como agora estão Temer e Aécio, saber usar os espaços nos telejornais é essencial para se manter em evidência, transmitir uma mensagem uniforme aos quatro cantos do País e amenizar a crise de credibilidade.
Lula e FHC, por exemplo, se sentem muito à vontade diante de uma câmera. Ainda que tenham estilos distintos, os dois desempenham a mesma postura de ‘showman’ da política. Sabem como poucos tirar proveito do carisma pessoal.
Mesmo pressionados por jornalistas com perguntas afiadas, mantêm domínio da situação e soltam frases de efeito (cheias de ideologias e recados) que, eles sabem, serão destacadas na edição dos jornalísticos.
Os dois quase sempre acertam o alvo: o telespectador aberto a ser influenciado por uma ideia qualquer, desde que bem apresentada na televisão.