Em ‘Terra e Paixão’, a entediante Aline (Bárbara Reis) tinha três pretendentes: o engomadinho Daniel (Johnny Massaro), o boy magia Caio (Cauã Reymond) e o rústico Jonatas (Paulo Lessa). Homens para todo gosto.
Só faltou a imprescindível química de casal, ausente nas três combinações. Sem estímulo para torcer pelo casal principal, formado agora por Aline e Caio, o público passou a vibrar pelo romance inusitado entre o gay poc Kelvin (Diego Martins) e o capataz enrustido Ramiro (Amaury Lorenzo).
Na linha ‘os opostos se atraem’, eles oferecem doses generosas de comédia pastelão e daquele duplo sentido apimentado que o público adora. Sobra carisma e faísca sexual. Tudo o que as demais formações amorosas do folhetim ficaram devendo.
Preferir a trama de uma paixão LGBT+ à de um casal hétero não é raridade. Na recém-encerrada ‘Amor Perfeito’, os telespectadores se dividiram em relação ao final desejado para o advogado bissexual Érico (Carmo Dalla Vecchia).
Uma parte queria vê-lo de volta aos braços do ex-namorado Romeu (Domingos Alcântara). Outra parcela achava melhor que ele ficasse com Verônica (Ana Cecília Costa). Esta segunda opção foi a escolhida pelos autores.
Nas redes sociais, houve protestos de quem viu um ‘apagamento’ da homossexualidade do personagem. A vida afetiva-sexual de Érico chamou mais atenção do que o vai e vem dos protagonistas Marê (Camila Queiroz) e Orlando (Diogo Almeida).
Situação semelhante ocorreu na popular ‘Vai na Fé’, no ar até agosto. O relacionamento entre os estudantes Yuri (Jean Paulo Campos) e Vini (Guthierry Sotero) conquistou a audiência. Inexplicavelmente, os roteiristas preferiram separá-los. Yuri terminou sozinho e deixou os fãs decepcionados.
Casais gays estão em alta até no streaming. O seriado ‘Rensga Hits!’, do Globoplay, mobilizou incontáveis assinantes em torno do romance entre o cantor Deivid (Alejandro Claveaux) e o segurança Kevin (Samuel de Assis). A torcida foi recompensada: teve beijo na boca em cima de um palco sertanejo no último episódio.
O sucesso dos amores entre gays na ficção da TV não tem a ver com a sexualidade dos atores nem de quem os assiste, e sim com os recursos dramatúrgicos que funcionam. Resulta da veracidade transmitida pelo texto e as circunstâncias encenadas, além da atuação convincente e simpatia dos intérpretes.
Enquanto isso, os romances entre héteros pecam pela mesmice e alguns erros de escalação. Cada vez mais exigente, o público não cai em qualquer historinha romântica.