A primeira chamada do ‘Domingão com Huck’ decepcionou quem havia criado alta expectativa em relação ao programa. Parece o ‘Caldeirão’ em novo dia com quadros herdados de Faustão.
Investir no que já foi testado e aprovado traz alguma segurança ao apresentador e à Globo. Gera garantia mínima de aceitação pelo público.
A base da nova atração serão as histórias comoventes contadas por Luciano há anos. Quem resiste a um drama com final feliz? O clichê da superação é infalível.
Mas estamos em outro contexto. A pandemia de covid-19 impôs overdose de notícias tristes e trágicas na televisão. Até novela absorveu a catástrofe. Há estafa coletiva com relatos dramáticos.
Tudo o que o telespectador precisa, hoje e nos próximos meses, talvez anos, é de escala generosa de escapismo. Produções otimistas capazes de tirá-lo da letargia e depressão.
Diante da TV, a família precisa rir, abstrair, ser estimulada a reagir e voltar a sonhar. Não se trata de alienação e sim de necessário contraponto à realidade asfixiante.
O entretenimento eletrônico é a terapia e o único lazer de milhões de brasileiros. Por isso, os programas comprometidos com alguma qualidade devem evitar a desgraça e apostar no humor, no show, no encantamento de quem assiste.
Luciano Huck precisa evitar a armadilha de fazer audiência a partir de lágrimas dos dois lados da tela. Isso já foi feito à exaustão por outros apresentadores do domingo. Em alguns casos, mera exploração do sentimentalismo.
É interessante ver rostos de brasileiros comuns na TV. Melhor ainda quando ilustram histórias alegres, a exemplo do que acontecia no ‘Brasil Legal’, de Regina Casé, e no quadro ‘Me Leva, Brasil’, do ‘Fantástico’.
A seu modo, Faustão injetava ânimo no nosso domingo preguiçoso, monótono e às vezes desalentador. O ‘Domingão com Huck’ deve fazer o mesmo: capturar nossa atenção e nos presentear com algumas horas de divertimento. É só isso o que queremos.
A chamada com o apresentador também lembra a propaganda eleitoral gratuita na TV: o homem bem-intencionado que leva a esperança aos desamparados. A Globo precisa tomar cuidado com a politização do programa, especialmente em 2022, que terá uma campanha presidencial que promete ser a mais tensa de todos os tempos.