Protagonizar uma novela das 21h da Globo é o sonho de toda atriz que faz televisão. Trata-se do lugar mais alto que se pode chegar no veículo de comunicação mais popular do País.
Poucas conseguem atingir esse ápice na carreira. Se a pele for escura, a chance é ainda menor. Na maior parte de seus 70 anos, a teledramaturgia brasileira sempre priorizou artistas brancos ou miscigenados de aparência europeia.
Após incontáveis críticas por não representar o Brasil real, a Globo decidiu promover a diversidade em suas tramas. Atores negros recebem mais oportunidades em papéis de destaque, não apenas como empregados domésticos e criminosos, como era quase regra.
A próxima novela das 9, com título provisório de ‘Terra Vermelha’, terá uma negra no papel principal. Inicialmente, a personagem Aline, criada pelo autor Walcyr Carrasco, seria branca, mas a emissora pediu a mudança de raça e ele aceitou.
A escolhida para interpretar Aline foi Barbara Reis, carioca de 33 anos formada pela tradicional escola de teatro Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e com cursos de atuação em outra instituição renomada, o Tablado.
Ainda que não seja tão conhecida do grande público, a atriz esteve em produções importantes na TV. Seus primeiros trabalhos foram a novela ‘Velho Chico’ e a minissérie ‘Dois Irmãos’.
Na sequência, apareceu em ‘Os Dias Eram Assim’, ‘Éramos Seis’ e ‘Sob Pressão’. Participou de ‘Jesus’ na Record TV. Na plataforma Star+ atuou na série ‘Impuros’.
Em sua trajetória diante das câmeras, Barbara aceitou fazer figuração, papéis sem fala e personagens pequenos. Foi notada pelos diretores e, aos poucos, conseguiu mais espaço para exibir seu talento.
A grande oportunidade surgiu com ‘Todas as Flores’, novela de sucesso do Globoplay. Misteriosa, sua personagem Débora se revelou uma bandida ligada ao tráfico de pessoas.
A partir da repercussão de seu desempenho no folhetim do streaming, os produtores de elenco de ‘Terra Vermelha’ passaram a cogitá-la para encabeçar o elenco. Passou por testes até ser a escolhida.
Há gigantesca expectativa em ver uma mulher preta a protagonizar novamente a principal novela da Globo. Isso só aconteceu uma vez até hoje, em 2009, quando Taís Araújo interpretou a modelo Helena em ‘Viver a Vida’, de Manoel Carlos.
Rejeitada pela maioria dos telespectadores, a personagem virou um tormento para a estrela que já havia liderado um elenco em ‘Da Cor do Pecado’, na pele de Preta, na mesma emissora, e em ‘Xica da Silva’, fazendo a protagonista homônima na extinta TV Manchete.
Ainda há, inegavelmente, resistência a negros em papéis de destaque. Principalmente se vivem personagens bem-sucedidos. Depois de décadas de omissão, a Globo quer usar sua influência para combater esse execrável racismo no consumo de teledramaturgia.
Ao viver uma viúva que derrota inimigos para defender sua pequena fazenda, Barbara Reis poderá fazer história. Walcyr Carrasco tem histórico de criar protagonistas amadas pelo público, a exemplo de Ana Francisca de ‘Chocolate com Pimenta’, Clara de ‘O Outro Lado do Paraíso’ e Maria da Paz de ‘A Dona do Pedaço’.