Não foi apenas o governo de Joe Biden que pressionou Lula na viagem a Washington para engrossar o discurso contra a Rússia na Guerra na Ucrânia.
A jornalista Christiane Amanpour também questionou o presidente brasileiro algumas vezes ao entrevistá-lo com exclusividade por 24 minutos para a CNN.
“O senhor fala muito de democracia e parece que está em conflito com o presidente Biden na maneira como os EUA defendem a democracia ao redor do mundo, especialmente na Ucrânia”, disse.
“Algumas pessoas perguntam por que Lula é tão comprometido com a democracia em seu País, mas não no exterior?”
Inicialmente, Lula esboçou um sorriso, como se previsse o questionamento. Depois, o semblante ficou sério.
“Estou extremamente comprometido com a democracia em qualquer lugar do planeta Terra. Penso que, no caso da Ucrânia e da Rússia, tem de haver alguém que fale em paz, tem de haver interlocutores para tentar falar com ambos os lados”, respondeu.
Em outro trecho da conversa, a veterana do jornalismo perguntou a razão de Lula continuar na política com a idade que tem.
O presidente se saiu bem na resposta. “Sra. Amanpour, eu sempre gosto de dizer que a velhice só existe para quem não tem causa. Se você tem uma causa e se dedica a ela, a velhice não existe, ela deixa de existir. É por isso que eu digo, todos os dias, eu tenho 77 anos, mas eu digo que tenho a energia de um homem de 30 anos. Estou disposto a trabalhar 24 horas por dia.”
Na última pergunta, Lula aproveitou a deixa da apresentadora sobre ser chamado de comunista para criticar a resistência do mercado financeiro às declarações dele a respeito da economia.
“O mercado é ingrato, porque nunca ganhou tanto dinheiro na vida como fez durante o meu governo.”
A gravação aconteceu na Blair House, a residência de hóspedes da Presidência dos EUA, a poucos metros da Casa Branca, onde Lula e sua mulher, a socióloga Janja da Silva, ficaram instalados.
Christiane Amanpour é considerada a mais poderosa jornalista de TV dos Estados Unidos. Tornou-se respeitada e famosa como correspondente de guerra.
Quase todos os líderes políticos do planeta já ficaram frente a frente com a britânica de origem iraniana, hoje com 65 anos. Entre eles, os ex-presidentes Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.
Ela tem um estilo objetivo e cortante de entrevistar. Faz aquelas perguntas espinhosas – e necessárias – que deixam o interlocutor desconfortável na cadeira.
Entrou para a crônica jornalística o embate que Christiane teve ao vivo com o então líder da Autoridade Palestina Yasser Arafat, em 2002.
Contrariado com algumas observações, ele questionou o profissionalismo da jornalista, a mandou calar a boca e desligou o telefone.
Enquanto a maioria de seus colegas nos EUA dão prioridade a assuntos internos, Amanpour sempre foca na geopolítica internacional, dando a seu público uma visão mais ampla e diversificada do mundo.
O material produzido pela equipe da CNN norte-americana foi exibido na íntegra pela CNN Brasil, canal lançado em 2020 e que passa por uma reformulação a fim de conquistar mais audiência.
Na visita à capital norte-americana, Lula abriu espaço na agenda também para a GloboNews. Foi entrevistado pela correspondente do canal, Raquel Krähenbühl.
Foi a segunda exclusiva para a emissora de notícias do Grupo Globo em menos de 1 mês. No dia 15 de janeiro, o petista conversou por mais de 1 hora com Natuza Nery.
Desde o início do mandato, Lula e seus principais ministros e secretários já falaram com a Globo e GloboNews mais de 100 vezes. Entre as cinco grandes redes de televisão do Brasil, somente a RedeTV! também conseguiu um horário na agenda do presidente.