Em 28 de abril de 2014, postei aqui no blog a seguinte crítica: ‘Novo Fantástico tem muita tecnologia e pouco conteúdo’. Exatamente dez anos depois, o ‘Show da Vida’ estreou um quadro que faz a gente sentir gosto de assistir à TV.
O ‘Cadeirinhas’ promove o reencontro do povo com ele mesmo na tela da mais influente emissora do país. Com tradição em contar histórias de anônimos, o repórter Chico Regueira aborda pessoas nas ruas e assume o papel de confidente. Um novo amigo disponível para ouvir. Chega a ser terapêutico a quem conta sua história e também ao telespectador.
“Que necessário!”, comentou Fátima Bernardes no Instagram após acompanhar o 1° episódio, com a participação da ex-doméstica e agora universitária Celena Santos e a economista Lorena de Souza, ambas negras nascidas em famílias pobres e disfuncionais. Igualmente marcadas por momentos de profunda tristeza, porém, orgulhosas das pequenas e grandes vitórias em sua trajetória.
Chico Regueira dá voz ao povo há 3 anos, quando colocou no ar o ‘Papo de Rua’, quadro precursor do ‘Cadeirinhas’. Exibido apenas no telejornal local ‘RJ1’, caiu nas graças de quem se vê refletido nos rostos desconhecidos e nas lutas diárias.
O repórter começou a trabalhar com comunicação aos 15 anos, em Belo Horizonte, apresentando um programa na rádio de uma favela. Pouco depois estava em um canal a cabo da região. Na hora de prestar o vestibular, optou por Jornalismo na Universidade Federal Fluminense.
Trabalhou sem remuneração na CNT até que surgiu a oportunidade de participar de um programa de estágio na Globo. Foi efetivado e passou por vários telejornais até chegar ao ‘Fantástico’, onde se especializou em matérias investigativas.
O instinto para a notícia e a apuração rigorosa renderam importantes prêmios por reportagens de denúncia, como a venda de crianças na Ilha do Marajó e a máfia dos taxistas no Rio. Para esta última apuração, ele tirou a licença na prefeitura e dirigiu um táxi por 1 mês a fim de recolher relatos.
O jornalismo humanizado feito por Chico Regueira precisa ser replicado por outras emissoras. Pessoas não são números ou apenas objetos de manchetes. Imprescindível individualizá-las e oferecer a dignidade merecida quando estão diante da câmera. Quem se senta naquela cadeirinha simples representa o Brasil de verdade.