Uma das personalidades do carnaval 2024 foi Vítor diCastro, para o bem e o mal. Seus admiradores pelo trabalho em canais de YouTube, no programa de internet ‘Pra Variar’ e no ‘MesaCast BBB’ festejaram a presença dele na cobertura dos desfiles dos grupos especiais de São Paulo e do Rio na Globo, a maior vitrine da televisão brasileira.
O fato de ser um ativista LGBT+ e representar os gays afeminados, com orgulho de se produzir com looks exuberantes e dar pinta, contou pontos. Afinal, a TV avança contra a homofobia, mas ainda prefere escalar homossexuais discretos – aceitáveis à parcela conservadora de telespectadores e anunciantes – para comandar grandes eventos.
Vítor não seria tão criticado nas redes sociais, pela imprensa e até por ex-funcionários da Globo se o jornalismo permanecesse à frente da passagem das escolas pelo Anhembi e na Sapucaí, e ele dividisse o trabalho com repórteres veteranos na transmissão.
Mas, ao eliminar jornalistas experientes e queridos do público a fim de priorizar o entretenimento, a Globo superexpôs o influenciador. Junte-se a esse estranhamento a falta de domínio da história do carnaval e das agremiações.
Além disso, houve, sem dúvida, preconceito por sua figura luminosa que desafia o olhar heteronormativo e ratifica a reclamação de quem vê a emissora forçar a diversidade para ser politicamente correta. Resumidamente, a presença de Vítor no vídeo foi um prato cheio aos intolerantes de plantão.
Relevante ressaltar que o sentimento antiGlobo de parte da população, baseado em ideologias de um lado e escolhas editoriais do outro, faz qualquer fagulha se transformar em um incêndio. Oferecido aos leões, Vítor diCastro acabou sendo eleito bode expiatório em reação às decisões equivocadas da cúpula da emissora a respeito do carnaval. O verdadeiro problema não é ele, e sim os diretores do canal que saíram ilesos da polêmica por não darem a cara a tapa diante das câmeras.
A exceção foi Boninho, responsável por comandar a transmissão. Questionado por ‘Veja’ a respeito da desaprovação de parte dos telespectadores e do ruído nas redes sociais, ele reagiu com a típica arrogância de quem se coloca acima do bem e do mal. “Eu sou o diretor. Estou amando tudo. Não estou nem aí para as críticas.”
Essa postura esnobe e autossabotadora explica em parte a decadência da programação da Globo, com acúmulo de fracassos de audiência, e a assombrosa desconexão do canal em relação ao melhor termômetro do gosto do povo, as redes sociais. Para azar de Boninho e seus superiores, a era do telespectador passivo e manipulável acabou.
Compreensivelmente, Vítor diCastro se abalou com a reprovação popular por seu trabalho nas arquibancadas. “Só vou comentar uma coisa: eu sou ator há 20 anos, apresentador faz doze anos, repórter faz cinco. Virei influenciador porque tenho conta para pagar, já que não nasci herdeira, e sou grato demais a todos os lugares que essa profissão me leva”, desabafou no Instagram.
“Mas meus diplomas, meus DRTs (registros como comunicador e ator), e toda a minha bagagem e experiência me fizeram chegar aonde eu estou. Quer criticar? Fique à vontade? Mas saibam de quem você está falando.” O comunicador fez uma provocação aos novos desafetos. “Queria ser melhor e fazer mais, mas sou o que eu consigo ser. Obrigado pelo apoio de quem tá juntinho vibrando e torcendo. E um beijo para quem julga de longe sem conseguir fazer metade do corre que a gente faz. É isso.”
Segundo biografias na internet e entrevistas do próprio, ele nasceu em Catanduva, no interior paulista. Tem 34 anos. Graduou-se em Humor na SP Escola de Teatro. Esteve no elenco de espetáculos, criou canais digitais e participou de produções de TV como ator (‘Tem que Suar’, Multishow) e apresentador (‘Jornada Astral’, HBO Max).
O saldo positivo da prova de fogo na Globo é que agora ele está nacionalmente conhecido. Poderá aproveitar essa visibilidade para impulsionar projetos pessoais. Um de seus canais, o ‘Deboche Astral’, possui 1,6 milhão de inscritos. Hora de aproveitar o que a Lua Nova proporcionou durante esse turbulento Carnaval.