A discussão entre Jair Bolsonaro e Amanda Klein na sabatina do presidente à Jovem Pan News ressaltou o incômodo que ele sente ao ser contestado por uma mulher.
Mais uma vez, fez um comentário fora do contexto para se defender e, ao mesmo tempo, tentar desestabilizar e desacreditar a entrevistadora.
Disse que o marido da jornalista vota nele. Sim, o empresário Paulo Ribeiro se declara bolsonarista.
Essa informação é curiosa, porém, irrelevante. Klein se tornou uma comentarista de política respeitada por sua postura profissional e ética.
De pensamento progressista e com visão de mundo oposta à do bolsonarismo, ela até ganha pontos por se manter fiel às suas convicções sendo casada com um eleitor do presidente.
Aliás, um casal com ideologias políticas divergentes é um exemplo positivo do funcionamento do sistema democrático.
Após a polêmica na JP News, Paulo Ribeiro parabenizou a mulher pela “valentia” ao enfrentar o candidato.
A estratégia sexista de Bolsonaro para se defender do questionamento firme de uma jornalista foi vista também no debate na Band.
Após ouvir a apresentadora do ‘Roda Viva’, Vera Magalhães, fazer uma avaliação negativa de seu papel no combate à pandemia, a atacou de maneira desrespeitosa.
“Vera, não podia esperar outra coisa de você. Você dorme pensando em mim. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro. Já está apelando”, disse.
Tal agressividade foi interpretada por analistas da TV como uma autossabotagem à tentativa de atrair o eleitorado feminino.
Houve forte reação da imprensa e de outros candidatos ao Planalto em solidariedade a Vera Magalhães e contra Bolsonaro.
Anteriormente, o presidente mirou artilharia contra Daniela Lima, da CNN Brasil, conhecida pela firmeza ao avaliar o governo.
Uma frase da âncora foi desvirtuada na internet para dar a entender que ela torcia contra a recuperação da economia.
“É uma quadrúpede. Afinal de contas, acho que não preciso dizer de quem ela foi eleitora no passado, né? De outra do mesmo gênero”, disse o presidente a apoiadores.
Além de insultar a jornalista da CNN Brasil, ele ofendeu a ex-presidente Dilma Rousseff. O tom misógino provocou indignação.
Outra jornalista alvo do belicismo verbal de Jair Bolsonaro foi Miriam Leitão, da Globo e GloboNews.
Tiveram alguns embates. O presidente afirmou mais de uma vez que a comentarista mente a respeito da tortura sofrida na ditadura.
A irritação de Bolsonaro com a comentarista começou na campanha de 2018, em sabatina ao vivo na TV.
A fim de constranger os entrevistadores, o então candidato lembrou que o fundador da Globo, Roberto Marinho, apoiou o regime militar.
Pouco depois, Miriam Leitão leu uma nota oficial com reprovação à ditadura e reforçando a importância da democracia.
Surpreso, Bolsonaro ficou com expressão contrariada e não ganhou tempo para comentar. O programa foi encerrado sem ele se despedir.
Daquele dia em diante, a veterana jornalista passou a receber críticas e deboches de pessoas ligadas ao candidato posteriormente eleito.
Três semanas mais tarde, o presidenciável teve um embate com Renata Vasconcellos ao ser entrevistado na bancada do ‘Jornal Nacional’.
Ele citou a diferença salarial entre a âncora e seu colega William Bonner ao responder sobre defender ganhos menores às mulheres em relação aos homens.
Provocada, Renata o enfrentou olhos nos olhos. “O meu salário não diz respeito a ninguém, e eu posso garantir ao senhor, como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu.”
A jornalista ainda devolveu a provocação. “Eu, como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário (de deputado).”
No auge da pandemia, o presidente voltou a atacar Renata. Revoltado com o ‘JN’, ele disse que a apresentadora fazia “cara de freira arrependida” ao noticiar as mortes por covid-19.