No início de abril, ao participar do ‘Troféu Imprensa’, a ex-polemista Rachel Sheherazade levou um ‘pito’ de Silvio Santos.
O patrão, que já foi candidato à Presidência do Brasil em 1989, deixou claro que a contratou por sua “beleza” e “voz” para “ler as notícias do teleprompter”, e não para emitir opinião na bancada do ‘SBT Brasil’.
Danilo Gentili, sempre afiado nos comentários no ‘The Noite’, foi igualmente repreendido na mesma ocasião. “Você não deve falar de política”, ordenou o dono do SBT.
Já Ratinho não só comenta sobre políticos como os leva a seu programa e oferece a eles uma visibilidade valiosa em horário nobre.
No quadro ‘Dois Dedos de Prosa’, o apresentador recebe numa cenográfica mesa de bar figuras importantes do poder, dos mais variados partidos.
No mês passado, o deputado federal Jair Bolsonaro mereceu 21 minutos no ar. Em outubro, três dias depois de ser eleito prefeito de São Paulo em primeiro turno, lá estava João Doria diante de Ratinho.
O senador mineiro Aécio Neves e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também participaram do bate-papo. Assim como os deputados federais Jean Wyllys e Pastor Marco Feliciano. A lista de entrevistados inclui ainda Marina Silva e Levy Fidelix.
A maioria dos presidenciáveis de 2018 já ficou frente a frente com Ratinho. Para eles, é uma ótima oportunidade de dividir a tela com um comunicador popular e ter um tempo confortável para propagar projetos – ante as entrevistas cronometradas nos telejornais, das quais pouco se aproveita.
A presença na atração do SBT serve ainda como termômetro de aprovação, a partir das reações da plateia e da audiência aferida minuto a minuto.
De janeiro até agora, o ‘Programa do Ratinho’ registrou média de 9 pontos. Este índice representa quase 2 milhões de telespectadores na Grande São Paulo. Uma excelente vitrine para qualquer político.
Há outro atrativo em aceitar o convite para o ‘Dois Dedos de Prosa’: o apresentador pressiona, mas sem aquele tom arrogante usado por alguns âncoras ao sabatinar candidatos, parlamentares e gestores.
Ratinho seguiu carreira política de 1977 até 1995 e sentiu na pele a cobrança feita pela imprensa. Mesmo diante dos políticos mais polêmicos, ele morde e, logo em seguida, assopra. Até porque seu público não está interessado em assistir a duelos ideológicos – aceita informação política desde que embalada com a leveza do entretenimento.
Dono da Rede Massa, afiliada do SBT com emissoras no Paraná, cujo sinal alcança partes do centro-oeste de São Paulo e o norte de Santa Catarina, o apresentador tem cada vez mais status na elite política. Seu poder de influenciar pessoas (leia-se potenciais eleitores) é um trunfo.
Por ser sócio de Silvio Santos no horário que ocupa, ele possui autonomia para pautar quem quiser. O Homem do Baú não interfere no conteúdo, ainda que desaprove a promoção de políticos em sua emissora. Para o patrão, o que importa mesmo é o faturamento – e a atração está com fila de anunciantes e ações de merchandising.
“Continue fazendo polêmica porque até aqui está dando certo”, sugeriu Ratinho a Bolsonaro. Em alta no Ibope e cada vez mais prestigiado entre os políticos, o apresentador sabe bem o que diz.