No sábado (29), o ‘Jornal Nacional’ destacou o alegado episódio de racismo da tripulação da Gol contra uma passageira negra em um voo de Salvador a São Paulo.
Ela foi retirada da aeronave sob escolta da PF após se recusar a despachar uma bagagem de mão por temer a quebra de seu laptop e requerer um espaço no bagageiro.
Surpreendida pela repercussão, a companhia aérea divulgou uma nota burocrática, sem manifestar solidariedade à mulher humilhada.
Horas depois, provavelmente após saber que o telejornal abordaria o lamentável caso, a empresa emitiu novo comunicado no qual tentou ser politicamente correta.
Quando o jornalismo da emissora de maior audiência da televisão entra em cena, a postura dos personagens envolvidos em notícias negativas quase sempre muda. Há pressa em tentar minimizar o prejuízo à imagem pública.
Em dezembro de 2016, no extinto programa ‘Manhattan Connection’, o veterano jornalista Lucas Mendes exemplificou o poder de influência do canal da família Marinho.
“Segundo um deputado, um líder lá no Congresso, o medo deles (políticos) é sair uma notícia ruim no ‘Jornal Nacional’. Isso estremece, é muito mais devastador do que na internet”, comentou o ex-correspondente da Globo.
“Hoje, você tem toda essa rapidez nas mídias sociais, mas ela está sujeita à desinformação. Não é tão confiável. O impacto quando sai no ‘Jornal Nacional’ é muito maior do que nas mídias sociais.”
A análise de 6 anos atrás continua válida. A crescente mobilização proporcionada pelas redes sociais ainda não se iguala ao impacto potencialmente destrutivo de uma matéria de denúncia no ‘JN’.
Além de atingir imediatamente cerca de 40 milhões de telespectadores, a informação é consumida também nas plataformas digitais da emissora e pauta outros veículos de comunicação.
Um rolo compressor capaz de causar relevante dano à reputação de uma pessoa, empresa ou marca – e também perda financeira.
Matéria exibida no telejornal mais visto do País pode servir de evidência em processo judicial. Por isso, dar uma resposta convincente à reportagem é tão importante a quem se vê exposto como autor de uma ilegalidade ou injustiça.
Circula desde 2015 na internet uma imagem simbólica do medo que o jornalismo da Globo suscita: uma servidora da Assembleia Legislativa de Goiás foge de uma repórter da afiliada do canal ao ser questionada sobre o hábito de bater o ponto e ir embora sem trabalhar. O meme “Senhora? Senhora?” provoca risos até hoje.
CRIME DE RACISMO NO VÔO DA gol @VoeGOLoficial
É todo dia isso, não aguentamos mais, cara! pic.twitter.com/3wlsIvIEqR
— Priiib (@lutepelosus) April 29, 2023