O Brasil está rachado. De um lado, os fãs de Arthur Aguiar. Do outro, quem despreza o participante do ‘BBB22’. Lembra a radicalização entre lulistas e bolsonaristas neste ano eleitoral.
Quem o defende e torce por ele enxerga um jogador habilidoso, aliado fiel, marido verdadeiro (admitiu várias traições) e uma vítima injustiçada dos 'piruliteiros' (lollipopers).
Aqueles que o rejeitam veem um homem tóxico, competidor dissimulado, amigo por interesse, parceiro abusivo e símbolo das distorções morais da população.
Arthur tem o mérito de ter desempenhado a função essencial a quem entra em um reality show: jogar explicitamente pela própria sobrevivência. Soube como ninguém aplicar estratégia, inteligência emocional e intuição.
Some-se a isso o carisma inegável, antagonistas atrapalhados e o talento para interpretar conforme a situação e o interlocutor (não se esqueçam, o cara é ator), pronto: a conjuntura perfeita.
O ‘Pãozinho’ conseguiu atiçar a visão maniqueísta de todos que assistem ao programa. Não há como ficar ‘isentão’ em relação ao brother de milhões. É ame-o ou deixe-o.
Para a sorte dele, a maioria o aprova. Entrou ‘cancelado’ e logo recebeu o perdão. Passou a ser visto como exemplo de pessoa imperfeita que merece uma segunda chance.
Seus defeitos mais visíveis – sendo a intolerância de ser contrariado o maior deles – são relativizados. Espertamente, Arthur faz sua gigantesca ambição parecer nobre obstinação e assim convence o público de que merece ganhar mais do que os outros.
Ele tem sido beneficiado também por adversários com limitada visão de jogo e sem magnetismo. Hoje, sua grande rival é Linna, um ícone de representatividade: negra, travesti, periférica, candomblecista e artista antissistema.
Chegou a ser apontada como favorita ao prêmio e possui torcida numerosa, porém, perdeu força ao ser duramente julgada por ações comportamentais e decisões na competição.
Com exceção de Linna, os demais que ainda estão na casa se tornaram coadjuvantes de Arthur, orbitando passivamente em torno do brother. Ele é o epicentro do ‘BBB22’, a força motriz de uma edição frouxa.
Sem suas artimanhas, o reality show possivelmente seria uma colônia de férias desinteressante de ser acompanhada por quem sintoniza a atração a fim de ver o caos da convivência humana.
Como jogador e agente do entretenimento, ele merece o prêmio. Quem o deprecia discorda por não dissociar a vida privada da trajetória no confinamento. E assim o Brasil polarizado da política se reflete no mais controverso programa de TV do País.