Primeiramente, uma obviedade: não há racismo reverso. Pronto final. O que existe, inegavelmente, é um sentimento de repulsa de muitos negros em relação a brancos. Tal animosidade pode ter diferentes origens. Entre as mais comuns está a revolta pelos séculos de escravidão e as sequelas sociais e emocionais impostas ao povo preto.
Essa postura está personificada de maneira superdimensionada em Lumena, a psicóloga-dj do BBB21. Ao se referir à desafeta Carla Diaz, ela usou os termos “desbotada”, “sem melanina” e “branquitude de merda”. Essa linguagem polêmica faz a participante ser vista como preconceituosa e extremista, destrói a coerência de seu ativismo e aumenta a antipatia do público por ela.
Cerca de nove horas antes de ser eliminado com quase 99% dos votos, Nego Di criticou essa linha de pensamento ao conversar com Karol Conká. “Eu gosto da Lumena demais, tenho como uma amiga, mas eu vejo que ela é uma pessoa que às vezes se excede um pouco nas paradas que ela fala”, disse. “Mano, não concordo com essa radicalização que ela tem com a questão racial, de tudo ser racial. Sabe, Karol? Porque eu acho que muita coisa é questão racial sim, mas tem muita coisa não é também.”
Mais cedo, o humorista já havia manifestado incômodo com a sister em papo com Projota. “Essa pira de levar tudo pra questão racial é demais pra mim”, reclamou. "Gosto muito da Lumena, acho uma mina foda, mas essa de colocar sempre a questão racial me incomoda muito”. O rapper concordou que a radicalização do discurso racial não seria a forma mais eficiente de lutar contra o racismo.
Boa parte da militância acredita que opor negros a brancos desagrega ao invés de gerar apoio à causa antirracista. Mas há uma corrente que, a exemplo de Malcolm X em histórica entrevista na TV americana em 1963, argumenta ser impossível a integração profunda entre negros e brancos por conta das marcas deixadas pelos papéis de escravagista e escravizado.
O raro momento de congruência de Nego Di foi a única contribuição positiva do brother às discussões suscitadas no ‘BBB21’. Logo no início do reality show, ele declarou ser “machista, homofóbico, racista e gordofóbico” ao comentar que tentaria usar a participação no programa como parte de “um processo de evolução”.
O esforço, se existiu, não ficou visível após o humorista se omitir diante do massacre psicológico contra Lucas e formar ‘gabinete do ódio’ com Karol Conká, Lumena e Projota. Tudo indica que ele será, a partir de agora, apenas mais um ex-‘BBB’ alvo de desprezo e sarcasmo. Resta a ele torcer para que Karol Conká tome em breve o indesejado título de participante mais rejeitado em todos os tempos no Big Brother Brasil.