O plano para desgraçar a vida de Viola (Gabz) em ‘Mania de Você’ produziu reação curiosa nas redes sociais. Não de solidariedade à chef de cozinha, e sim de euforia com a tiragem da máscara de sua rival, Luma (Agatha Moreira).
Várias postagens festejaram o fato de a personagem ‘sair do armário’ e assumir sua vilania. Tal repercussão evidencia a falta de empatia dos noveleiros com a mocinha, criticada por trair a então amiga com Rudá (Nicolas Prattes) e não ter sofrido o suficiente no começo da trama para despertar piedade. Sua rápida ascensão ao sucesso na passagem de tempo também deixou muita gente desconfiada.
Algo semelhante aconteceu com Aline (Bárbara Reis) em ‘Terra e Paixão’. Foi igualmente rejeitada pelos telespectadores não convencidos de seu suplício e caráter. Não engoliram ela logo ter esquecido o marido assassinado no 1º capítulo para se entregar à paixão por Daniel (Johnny Massaro) e, pouco depois, estar nos braços do irmão dele, Caio (Cauã Reymond). Talvez, por isso, a defesa de suas terras contra o vilão Antônio (Tony Ramos) nunca empolgou o público.
Ao retroceder mais um pouco, chegamos a ‘Travessia’, onde Brisa (Lucy Alves) jamais conquistou grande apoio da audiência com a história de ser vítima de deepfake na acusação de sequestrar crianças. O crime difícil de ser compreendido por pessoas leigas em tecnologia, ainda que bem explicado no roteiro, não provocou a necessária sensação de injustiça à heroína da novela.
Em resumo, Viola, Aline e Brisa foram protagonistas que não despertaram a sensibilidade dos noveleiros a ponto de gerar aquela torcida entusiasmada por justiça e um final feliz, ainda que suas intérpretes tenham se esforçado em cena para inserir carisma e o imprescindível drama.
Um caso clássico de rejeição similar aconteceu em ‘Viver a Vida’, quando Helena (Taís Araújo) já começou famosa e rica. Para piorar, admitiu ter feito um aborto anos antes por priorizar a carreira. “Ele (o autor Manoel Carlos) quis escrever uma personagem negra, rica, bem-sucedida, sem justificar o caminho dela. Simplesmente ela é”, explicou Taís em uma live.
“Como é que essa mulher não arrastou uma corrente, não passou fome, por que ela merece estar nesse lugar (privilegiado)? ‘Ela é perfeita’, as pessoas falavam.” A falta de identificação e o desprezo pela personagem renderam um massacre do público e da imprensa contra a atriz, que desenvolveu depressão durante as gravações.
Conclui-se que, assim como na política, o público consumidor de teledramaturgia vive fase conservadora. Quer heroínas supostamente perfeitas, como nos contos de fadas. Parece disposto a aceitar e torcer apenas por protagonistas sem falhas morais e submetidas aos piores castigos. Isso explica o sucesso de ‘Força de Mulher’, na Record, onde a boa mãe Bahar (Özge Özpirinçci) é humilhada e apunhalada todo santo capítulo, num martírio sem fim.