“Um dia, quando você menos esperar / Eu vou voltar sorrindo / Como se nada tivesse acontecido”, compôs Cazuza. O trecho da música ‘Quatro Letras’ pode servir de trilha para o retorno de Aguinaldo Silva à Globo.
O autor acertou contrato para escrever a novela ‘Três Graças’, sobre três gerações de mulheres da mesma família que foram mãe solo. Deve entrar no ar na faixa das 21h no fim de 2025, após o remake de ‘Vale Tudo’, ou no ano seguinte.
Silva foi dispensado pela emissora em 2020 depois de 41 anos de trabalho. A maneira como aconteceu gerou constrangimento. “O que realmente me chateou e achei impróprio foi um rapaz da Globo me ligar no dia 1º de janeiro, em pleno feriado, às 8h da manhã, para me avisar que ele (o contrato) não seria renovado”, contou à ‘Veja’. “Eles não tiveram a preocupação de fazer uma coisa mais cortês.”
Pesou na decisão de demiti-lo seu alto salário (estima-se o recebimento entre R$ 500 mil e R$ 800 mil quando estava com novela no ar) e os problemas de ‘O Sétimo Guardião’. Além de audiência baixa, o folhetim com pitadas de realismo fantástico suscitou desgastante batalha judicial com cobertura da mídia.
Ex-alunos de um curso de roteiro ministrado por Aguinaldo alegaram ser coautores da trama. Uma tempestade perfeita que, associada à rivalidade com o então diretor de teledramaturgia da Globo, Silvio de Abreu, selou o fim da longa parceria do ganhador de dois Emmys Internacionais com a emissora da família Marinho.
O retorno de Silva enfatiza a intenção da Globo de superar a fase complicada no departamento de novelas, especialmente em relação às produções das 9 da noite. As últimas três – ‘Renascer’, ‘Terra e Paixão’ e ‘Travessia’ – registraram médias de audiência abaixo do esperado (ironicamente, menores que a de ‘O Sétimo Guardião’). A atual, ‘Mania de Você’, tem um começo com índices igualmente decepcionantes.
Sem contar com a maioria dos autores veteranos, em razão de aposentadoria (Manoel Carlos, Benedito Ruy Barbosa) ou morte (Gilberto Braga), e ainda insegura em promover dramaturgos de novas gerações ao horário mais nobre, o canal carioca precisou dar o braço a torcer e reparar a demissão equivocada.
Autor de sucessos, a exemplo de ‘Roque Santeiro’, ‘Tieta’, ‘Vale Tudo’, ‘Senhora do Destino’ e ‘Fina Estampa’, Aguinaldo Silva, de 81 anos, representa hoje uma esperança de fazer os olhos dos noveleiros voltarem a brilhar ao assistir a uma novela da Globo.
Para ele, radicado em Portugal desde antes da pandemia, a recontratação é uma volta por cima e a oportunidade de exorcizar o ponto fora da curva em sua carreira representado por ‘O Sétimo Guardião’. Lamentavelmente, o X está fora do ar. Famoso pelos posts irônicos, o dramaturgo iria, com certeza, debochar dos desafetos que deram sua carreira por encerrada.