No capítulo de terça-feira (7) de ‘Segundo Sol’, Remy (Vladimir Brichta) tirou a camisa e obrigou Luzia/Ariella (Giovanna Antonelli) a massagear suas costas. Antes, havia insistido para que a DJ fugitiva da polícia transasse com ele em troca de seu silêncio. Mesmo sob intensa pressão, a vítima de assédio resistiu.
Na semana passada, o crápula obrigou a ex-amante Karola (Deborah Secco) a ir para a cama, também sob chantagem. Pela lei, trata-se de sexo sem consentimento, ou seja, estupro. Remy assediou verbalmente ou fisicamente outras mulheres da novela. Entre elas, Gorete (Thalita Carauta), ex-amante de seu pai e atual namorada de um de seus irmãos, e Rosa (Letícia Colin), garota de programa de quem se tornou cúmplice.
O personagem pode ser considerado um predador sexual. Em sua busca por dinheiro e poder, ele aproveita a fragilidade das mulheres que cruzam seu caminho para praticar o abuso. Em sua mente doentia e criminosa, acredita ter o direito de explorar o corpo feminino. Remy representa o machismo, o sexismo, a violência e até a misoginia – afinal, um homem que trata as mulheres com tal desrespeito e desprezo deve odiá-las.
Não poderia estar no ar em melhor momento: os telejornais noticiam diariamente crimes hediondos contra namoradas, noivas, esposas e ex-companheiras. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, acontecem no País 135 estupros e 12 assassinatos de mulheres a cada dia.
Apesar da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminício, a brasileira ainda é um alvo fácil, seja na rua ou dentro da própria casa. Estamos, vergonhosamente, entre os Países onde mais se matam mulheres. Remy é uma criação fictícia, mas existem milhares de versões verdadeiras (e piores) dele espalhadas por aí.
Por enquanto, o autor João Emanuel Carneiro não fez um merchandising social explícito em ‘Segundo Sol’: o comportamento abominável do assediador está inserido no contexto da trama sem gerar uma campanha oficial contra o assédio e o estupro.
Mas a simples presença na TV de personagem tão representativo da realidade já é importante. Mais uma vez, a telenovela reflete um problema social pouco discutido na sala de estar das famílias brasileiras.
Vladimir Brichta interpreta Remy com consistência e vigor. Transmite a frieza e a dissimulação comuns a homens violentos. No começo do folhetim, ele era apenas um malandro. Aos poucos, revelou-se um abusador contumaz. Essa transformação faz parte do relato da maioria das vítimas: o companheiro amável do início do relacionamento trilha uma escalada de violência ao longo da convivência.
Em breve, Remy será esfaqueado. A morte vai gerar o ‘quem matou?’, uma fórmula infalível para atrair a atenção do público. O assediador da novela terá um final trágico que, na vida real, é recorrente entre as mulheres golpeadas pela violência doméstica.