Na segunda-feira (7), o clima ficou tenso no ‘Redação SporTV’ quando o repórter Luiz Teixeira e o presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, se desentenderam ao debater sobre a denúncia de insulto racista contra Gabigol, do Flamengo, no clássico ocorrido no domingo. O jogador alega ter sido xingado de “macaco” por torcedores do time adversário.
“Queria abrir minha fala mostrando minha indignação com uma frase dita aí no programa por um dos colegas de vocês”, disse Bittencourt, por telefone, ao âncora Marcelo Barreto. “Que a nota do Fluminense teve o teor que teve porque o presidente do Fluminense não é negro.”
O comunicado foi criticado na imprensa e nas redes sociais por colocar em dúvida a ofensa. “O Fluminense informa que está apurando o episódio em que um torcedor supostamente teria dirigido palavras racistas ao atacante Gabriel Barbosa”, diz o trecho contestado.
“A frase tida pelo colega de vocês é tão ou mais discriminatória do que possa ter ocorrido”, argumentou o presidente do clube. “Digo isso porque está fazendo juízo de valor de mim e da minha família. Sou um homem com relação familiar profunda com essa causa do racismo porque minha esposa e a família dela são de origem negra e indígena.”
O repórter Luiz Teixeira, que é negro, entrou no ar para participar da entrevista e explicou a razão de ter questionado o posicionamento da diretoria do tricolor. “Eu disse que se o presidente do Fluminense fosse negro dificilmente aquela nota de repúdio seria escrita (daquela maneira)”, reiterou. “Porque quem sente a dor do racismo e é negro não ia duvidar de quem está denunciando. O que tem de preconceituoso ou tão mais preconceituoso nessa frase que acabei de falar?”
Mário Bittencourt não aceitou a explicação e cobrou outra resposta. “Você não sente a dor do racismo, você não é negro”, insistiu Luiz. “Eu sinto, minha mulher é negra, a família dela é negra, eu sinto”, respondeu o entrevistado. “Mário, alguma vez, sozinho, andando num shopping ou em qualquer lugar, você foi perseguido, tirado do lugar por ser negro? Então você não sente essa dor. Você sente a dor das pessoas (negras).”
O presidente reiterou desconforto com a cobertura do caso pelo ‘Redação SporTV’ e afirmou que a investigação interna prossegue com a análise de novos vídeos. Marcelo Barreto disse que o Fluminense tem sido tratado de maneira respeitosa pelo programa.
Contratado pela Globo em março de 2021, Luiz Teixeira, que faz questão de usar penteados afro, já sofreu manifestações de racismo. Várias vezes foi questionado sobre sua função nos gramados por quem não o enxergou como um repórter de TV. Frequentemente é tratado como se fosse um técnico da equipe, e não um jornalista que aparece no vídeo. “É duro aceitar um repórter negro?”, protestou em uma rede social.
No meio de televisão há muitos negros em funções desempenhadas atrás das câmeras (igualmente importantes, ressalte-se) e poucos que seguram um microfone de uma grande emissora como a Globo. O episódio contra Gabigol e a reação firme de Luiz deixam explícitos, mais uma vez, o racismo no futebol, combatido de maneira ainda burocrática e insuficiente, e a pouca representativa negra na grande mídia, mesmo o Brasil sendo um País com maioria de pretos e pardos.
Antes de trabalhar nos canais do Grupo Globo, Teixeira foi apresentador na rádio Band News FM e passou pelos portais R7 e Terra.