Mais uma jornalista veterana se manifestou, ainda que indiretamente, contrária ao novo formato da cobertura dos desfiles de carnaval, com a participação de entrevistadores ligados ao entretenimento ao invés de repórteres do jornalismo.
“Dos 40 anos da Sapucaí, participei de 30 transmissões, estudando os enredos, os sambas, visitando os barracões, levando essa preparação muito a sério. É o mínimo que se espera de quem vai pra avenida cobrir o maior espetáculo da Terra, né não???”, escreveu Monica Sanches no Instagram.
A jornalista foi demitida do canal no início de 2023 após 31 anos na casa. Além da cobertura de fatos do dia a dia, destacou-se por séries especiais, como a dos 200 anos da chegada da família real portuguesa e a dos 50 anos do Golpe de 64. Seu rosto também ficou marcado pelas transmissões de Réveillon da praia da Copacabana.
No mesmo post em que aparece ao lado de colegas que ainda trabalham na emissora (Pedro Bassan, Mariana Gros e Ana Luiza Guimarães), Monica fez uma provocação sem perder a elegância.
“... posso garantir pra vocês é que o time desta foto representa uma equipe de reportagem que sempre amou o carnaval, respeitando e admirando todos os integrantes de todas as escolas.”
Um dia antes, Ana Luiza usou a mesma rede social para relembrar os anos de cobertura do evento na Sapucaí. “Saudade dessa adrenalina”, postou.
Dezenas de seguidores reagiram com comentários negativos contra a decisão da Globo de escalar o influenciador Victor diCastro e a repórter do ‘The Masked Singer’ Kenya Sade para interagir com as arquibancadas e os integrantes das escolas de samba.
Provavelmente para evitar idêntica onda de críticas contra a TV do clã Marinho, Monica Sanches desativou a função de comentários de sua postagem. Ela preserva boa relação com o antigo empregador.
Outra veterana que deixou o jornalismo da Globo, Cristina Serra, foi menos diplomática ao opinar no Facebook. “Péssima a cobertura da Globo na Sapucaí neste ano”, escreveu.
“Trata a maior manifestação cultural do Brasil como entretenimento ligeiro. Comentários e entrevistas recheados de banalidades. Não tem repórter na avenida. Teve carro com problema, gente machucada e o público em casa fica sem saber. Tive que buscar informação na internet. Num ano com enredos tão importantes é uma cobertura desonesta e um desrespeito com as escolas e com o telespectador. Desisto.”
Ao afastar profissionais experientes do jornalismo para colocar no lugar nomes do departamento de Esporte, do Entretenimento e do universo das redes sociais, o canal pasteurizou a cobertura, ignorando o chamado 'chão' dos desfiles, onde acontecem momentos especiais e também problemas com as escolas.
Sob a ancoragem de Karine Alves e Alex Escobar, o Carnaval Globeleza pecou pelo excesso de bajulação às agremiações e a falta de informações em tempo real aos telespectadores. Ficou superficial e menos dinâmico.
O público merece bem mais do que perguntas genéricas e pedidos de ‘samba no pé’. Sorte teve quem assistiu às matérias com o resumo dos desfiles no ‘Jornal Nacional’, feitas por repórteres com texto impecável e exímia edição de imagens. Poucos minutos que valeram tanto quanto as longas horas de transmissão ao vivo.