Alto, corpulento e com voz imperativa, Marcelo Rezende, que morreu neste sábado (16) em decorrência de um câncer em vários órgãos, foi uma presença marcante em todas as redações nas quais trabalhou. E foram muitas, em jornais, revistas, rádios e na TV.
Mas não era apenas sua figura autoritária que impressionava. O talento também o fazia se destacar. Provou-se competente escrevendo matérias, reportando a ouvintes e no ‘olho a olho’ com telespectadores.
Foi de uma época em que se fazia jornalismo na rua, correndo atrás da notícia, e não apenas consultando o Google e as redes sociais no conforto da redação com ar-condicionado.
Ousado e destemido, com aquela típica marra carioca, ele se tornou um dos mais competentes repórteres investigativos da televisão brasileira, onde estreou na Globo em 1987, na área de esportes.
Logo a direção da emissora percebeu seu potencial para pautas policiais. Rezende foi a campo e não decepcionou. Dedicou-se à cobertura de assassinatos, sequestros, conflitos agrários e escândalos de corrupção.
O auge da carreira aconteceu ao ancorar a denúncia de execuções sumárias feitas por policiais na Favela Naval, em Diadema, na Grande São Paulo, a partir de imagens de um cinegrafista amador.
Com reportagens exclusivas realizadas com apurado faro investigativo e boas fontes, Marcelo registrou seu estilo contundente no ‘Fantástico’, no ‘Globo Repórter’ e no ‘Jornal Nacional’.
Em maio de 1997, se reinventou ao estrear no comando do ‘Linha Direta’, programa que reconstituía crimes chocantes no formato dramatúrgico ao gosto do público apaixonado por novelas.
A atração ajudou a polícia a prender vários criminosos foragidos e elevou o prestígio de Marcelo Rezende. Ali começou sua transição de repórter tradicional para showman de telejornalismo policial.
Fora da Globo em 2002, ele passou por RedeTV! (‘Repórter Cidadão’ e ‘RedeTV News’) e Band (‘Tribunal na TV’), antes de se firmar na Record em 2010, onde havia trabalhado anteriormente por curto período.
Após um tempo no ‘Domingo Espetacular’ e no ‘Repórter Record’, assumiu a apresentação do ‘Cidade Alerta’ em 2012.
Polemista e ‘indirigível’, virou o mais bem-sucedido âncora do estilo ‘sangue na tela’, chegando a marcar mais de 10 pontos no Ibope.
Marcelo Rezende não teve pudor em se popularizar diante das câmeras. Mas rejeitava o tempo ‘policialesco’ que parte da imprensa usava para definir o jornalismo que fazia. Alegava exibir apenas a vida real, nua e crua.
O bordão ‘corta pra mim!’ ganhou a boca do povo. Era admirado pela classe policial, a quem sempre oferecia apoio.
Impossível ignorar que sua produção jornalística dos últimos anos foi incompatível com a qualidade das reportagens vibrantes que fez na Globo.
Contudo, essa fase de ‘audiência a todo custo’ não desvaloriza a contribuição relevante dada por ele à modernização do telejornalismo brasileiro.
Em maio, durante entrevista ao ‘Domingo Espetacular’, o apresentador revelou um câncer no pâncreas e no fígado. Deixou de ser noticiador para ser tratado como personalidade midiática.
Nos últimos quatro meses, suas mensagens escritas e vídeos caseiros postados nas redes sociais repercutiram na imprensa.
A luta contra a doença suscitou solidariedade de milhões de anônimos e acaloradas discussões a respeito de tratamentos alternativos para a cura do câncer.
Em um de seus posts no Instagram, o apresentou citou o trecho de uma composição da musicista e poeta argentina María Elena Walsh: “Tantas vezes me mataram, tantas vezes eu morri, mas eu estou aqui, ressuscitando”.
Marcelo Rezende, 65 anos, deixa cinco filhos e um valioso legado como jornalista.