Livrar-se de uma pessoa não significa necessariamente que o problema causado por ela está resolvido.
Pelo contrário: apenas varre-se para debaixo do tapete a sujeira que, cedo ou tarde, voltará aos nossos pés.
Foi o que aconteceu no desfecho do caso William Waack na Globo. A emissora optou rescindir o contrato que havia renovado recentemente.
Negociou e pagou a multa e, assim, espera encerrar a polêmica suscitada pela declaração racista do agora ex-âncora do ‘Jornal da Globo’ em vídeo vazado por ex-funcionário do canal.
O telejornal de fim de noite será assumido, como antecipou este blog em post de 9 de novembro, por Renata Lo Prete, que já era a substituta oficial de Waack em folgas e férias.
A titularidade do ‘JG’ a tira do comando do ‘Jornal das Dez’, da GloboNews. Heraldo Pereira, repórter especial em Brasília, comentarista do ‘Jornal da Globo’ e eventual apresentador do ‘Jornal Nacional’, passa a ancorar o principal noticioso do canal pago.
Aliás, essa escolha parece uma decisão calculada pela Globo para ‘limpar a imagem’ da emissora. Heraldo é um ícone negro do telejornalismo por ter chegado a altos postos no principal canal de TV do País.
Ele está na Globo desde 1985, mas somente agora, aos 56 anos, conseguiu ser efetivado como apresentador titular de um telejornal do Grupo Globo.
A interação entre William Waack e Heraldo Pereira era sempre um dos melhores momentos do ‘JG’. Havia sintonia entre os dois, que carregam décadas de experiência na apuração de notícias e na análise dos fatos.
Com imensurável poder de influência na casa de milhões de brasileiros, a Globo poderia aproveitar o lamentável episódio com Waack para discutir o racismo neste País que possui cerca de 111 milhões de negros e tem a discriminação racial como característica vergonhosa.
O veterano, por sua vez, poderia ter feito um pedido de desculpas ‘olho no olho’ com o telespectador. A emissora e o apresentador se limitaram a emitir uma nota à imprensa. Uma resposta burocrática e pouco convincente.
A saída dele do ‘Jornal da Globo’ é um alívio para a Globo, que se livra de um problema. Contudo, deixa um vácuo na responsabilidade social que o canal tanto preza.
Não há melhor maneira de combater o racismo do que gerar informação sobre o tema – matéria-prima básica de uma empresa de comunicação.
A Globo varreu William Waack para debaixo do tapete e, assim, dá o assunto por encerrado, ao invés de unir-se ao jornalista para conscientizar sua audiência da execrável prática do racismo cotidiano no Brasil.
Essa conclusão ‘fácil’ para a polêmica só gerou perdedores – inclusive o telespectador do canal, que fica sem um dos mais inteligentes apresentadores do País.
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