O rompimento voluntário e amigável de Fernanda Gentil com a Globo encerra uma parceria de 15 anos. A jornalista mostra nobreza ao renunciar a um bom salário e alto status em nome do bem-estar emocional e da busca por recriar a carreira.
Em resumo, estava infeliz no canal, onde não havia perspectivas. Não quis continuar apenas para garantir o dinheiro na conta todo mês. Os últimos dois projetos com ela na apresentação – ‘Se Joga’ (2019-2021) e ‘Zig Zag Arena’ (2021) – fracassaram. Eram formatos desinteressantes.
Mais do que isso, foram programas que engessaram Fernanda, boicotando o que ela teria de melhor a oferecer: o improviso e o bom humor. Um comunicador atado em camisa de força não produz o esperado.
Ainda que seja uma despedida triste, a jornalista não deve se sentir derrotada. Construiu uma trajetória bem-sucedida e deu relevante contribuição à luta interminável contra a LGBTfobia.
A fase final – quando trocou o jornalismo esportivo pelo entretenimento – decepcionou exclusivamente em consequência da inabilidade da Globo.
O canal não soube o que fazer com Gentil. Faltou encontrar o formato ideal. E nem precisava reinventar a roda. Bastava dar a ela a oportunidade de ficar à vontade diante das câmeras para ser fiel à própria autenticidade.
Essa saída escancara a estranha opção da Globo de abrir mão de profissionais valorosos, seja por demiti-los ou deixá-los na ‘geladeira’. A consequência é o empobrecimento de seu elenco.
A TV líder em audiência também não consegue emplacar novos sucessos na programação. Faz tempo que tenta, tenta e não empolga o público com lançamentos.
A aposta fácil em reciclagens, como a do ‘Caldeirão’, e formatos importados, a exemplo do ‘The Masked Singer’, prova a dificuldade – talvez falte confiança – em viabilizar ideias originais.
Aos 36 anos, Fernanda Gentil está apenas encerrando um ciclo. Pode recuperar a alegria de fazer TV em outra emissora aberta ou em canal pago, ou partir para o streaming, o YouTube, o TikTok, enfim, não faltarão opções. Só quem perde é a Globo.