No ‘Em Pauta’, Sandra Coutinho ressaltou a dificuldade da candidata democrata a presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, de conquistar votos de homens negros. “Deveria ser um eleitorado que vota nela pela questão da representatividade”, alegou.
A correspondente em Nova York afirmou que muitos norte-americanos não votarão em Kamala “principalmente pelo fato de ela ser mulher”.
Demétrio Magnoli levantou o dedo pedindo para falar. “A maioria dos homens negros continua votando nos democratas, na Kamala Harris, não no Trump. Mas a redução da vantagem entre homens negros é explicada pelos homens negros em pesquisas qualitativas por razões econômicas. Eles dizem ‘a economia não está funcionando para mim, então, eu quero mudança’.”
O comentarista insistiu. “Foi Barack Obama que sugeriu que o que eles dizem é falso, que eles não votam em Kamala Harris por machismo. Mas isso é especulação, hein. É preciso levar em conta o que as pessoas dizem sobre o seu voto.”
Sandra Coutinho contraditou. “As pessoas têm vergonha de dizer que são misóginas. Eu acompanhei várias pessoas falando na Geórgia, na Carolina do Norte, que não querem uma mulher na Presidência. Desculpa, mas nesse assunto, eu sei que pauta identitária ninguém mais tem paciência, mas quem tem lugar de fala sou eu. O caminho para as mulheres é mais difícil.”
Demétrio reagiu com os dedos indicadores em negativa. “Não, não, eu também tenho lugar de fala. Não! Eu tenho lugar de fala também porque sou um analista político”, disse. “Como mulher? Você é mulher?”, rebateu Sandra, sorrindo.
Magnoli continuou a defender o direito de opinar sobre a questão. “Eu sei, meu amor, acontece que a misoginia é uma coisa real”, disse a jornalista. Ele prosseguiu com a explicação, sem deixar a colega falar. Sandra o contestou. “Mas você está mansplaining para mim, né? Algo que estou tentando dizer como mulher. Curioso, né?”
Mansplaining é o termo em inglês derivado da junção das palavras ‘man’ (homem) e ‘explaining’ (o ato de explicar). Aplica-se quando um homem faz uma argumentação a uma mulher, supondo que ela não entenda do assunto abordado.
“Você está proibindo que eu exerça a minha profissão”, acusou Demétrio. “Não, de jeito nenhum”, respondeu a correspondente. “O que eu estou querendo dizer é que a minha experiência de vida me mostra que é mais difícil a gente conseguir o que quer que seja pelo fato de ser mulher.”
Demétrio tentou falar e levantou novamente o dedo. A jornalista não gostou. “Você está me interrompendo, está fazendo uma coisa feia chamada mansplaining. Deixa eu terminar de falar.” O comentarista riu e virou-se para o lado, como se fosse pegar algo.
“Eu acho, inclusive, que é feio você rir debochadamente. Eu não faço isso com você, Demétrio, tenho respeito pela sua opinião”, afirmou Sandra. O jornalista ficou novamente sério. “Eu fiz uma brincadeira sobre o lugar de fala. Eu acho importante a gente entender que não se trata de mimimi. Muita gente fala que é questão econômica (para não votar em Kamala Harris), mas também conta a questão de ela ser mulher”, afirmou Sandra. “Os Estados Unidos têm uma projeção de força no mundo, e existe o mito de que só homens projetam força”, reiterou. “Até o Brasil já teve uma presidente mulher.”
Magnoli ainda tentou intervir, mas estava com o microfone desligado e o âncora Marcelo Cosme pediu a ele paciência para falar mais tarde. Sete minutos depois, o comentarista ganhou novo tempo no ar.
“Eu nunca disse que a questão feminina está resolvida, mas eu constataria que Hillary Clinton teve 3 milhões a mais de votos do que Donald Trump”, lembrou, referindo-se à disputa eleitoral de 2016.
“Então, não é verdade que a eleição de uma mulher presidente é um grande obstáculo nos Estados Unidos. Ela não ganhou devido ao mecanismo do colégio eleitoral e a votos em certos estados.”
Magnoli condenou a demonização dos eleitores pretos que declaram nas pesquisas a recusa em votar na candidata democrata negra Kamala Harris.
“Quando homens brancos de classe média baixa dizem que votarão em Trump devido à economia, ninguém diz para eles ‘vocês são machistas’. Mas estão dizendo isso para os homens negros, ao invés de aceitar o que eles dizem nas pesquisas sobre a sua motivação de voto”, afirmou. “O que eu acho é que os homens negros têm lugar de fala sobre o seu próprio voto.”
No fim do conflito, Sandra Coutinho recebeu o apoio da colega Eliane Cantanhêde, também participante da edição do ‘Em Pauta’.
“Queria, como mulher, como jornalista, como analista política de muitos anos, concordar com a Sandra, porque a realidade é gritante, né, gente? Sim, nós, mulheres, temos muito mais dificuldade de afirmação”, disse a veterana.
“E, toda vez que querem atacar a gente, atacam na credibilidade. A gente sempre é loira burra, a que não sabe nada, que não tem capacidade de liderar o País. Por que o Biden tem, o Obama tem, o Trump teria – que eu acho que ele nem tem – e a Kamala, não?”
Demétrio Magnoli carrega um histórico de atritos com outros jornalistas da GloboNews. Ele se declara de esquerda, porém, não deixa de refutar ideias progressistas. Exerce um papel revelante na GloboNews, onde predomina o coleguismo e há pouca pluralidade nas discussões.