Ao suspender a monetização dos canais da Jovem Pan, após acusá-la de "repetidas violações das nossas políticas contra desinformação em eleições", o YouTube atinge indiretamente milhares de outros produtores de conteúdo.
Aqueles que, assim como a rede de comunicação da família Carvalho, propagam discurso extremista, devem estar agora com medo de ser alvo de idêntica punição.
A ação voluntária do YouTube poderá suscitar mudança editorial nos maiores defensores de Jair Bolsonaro na plataforma. Baixar o tom e rever a disseminação de fake news.
Quando o bolso é atingido, geralmente vira cada um por si. Quem preza o dinheiro gerado por vídeos não vai querer ver a fonte secar. O bolsonarismo não tem como oferecer compensação financeira.
Como se diz no meio, "fazer televisão é uma brincadeira cara". Para manter suas operações no ar, a Jovem Pan News precisará mudar a linha editorial para recuperar a monetização do YouTube.
Ou encontrar rapidamente novo meio de faturamento para compensar o rombo nas receitas. Disso depende o pagamento de satélites, apresentadores, comentaristas e outros custos.
Estima-se que a Jovem Pan recebeu R$ 20 milhões em 2021. Valor baixo para uma grande TV, como Globo, Record e SBT, mas imprescindível a um canal com apenas 1 ano de atividade e ainda em fase de consolidação.
Parte do mercado publicitário não anuncia na JP News em razão de mentiras e ataques ideológicos lançados por comentaristas. O novo posicionamento do YouTube pode afastar ainda mais anunciantes.
Vista como porta-voz do bolsonarismo, a TV do grupo está à frente da CNN Brasil no Ibope, mas ainda distante da GloboNews, que lidera entre os canais de notícias.
A derrota de Bolsonaro nas urnas repercutiu com a saída de nomes importantes da emissora, como Augusto Nunes, Guilherme Fiuza, Ana Paula Henkel, Caio Coppolla e Carla Cecato.
Em vídeo, o CEO da Jovem Pan, Roberto Araújo, negou que os desligamentos tenham sido consequência do resultado da eleição presidencial. "São mudanças normais e a renovação faz parte do processo de evolução da empresa."
Continuam no ar comentaristas devotados do bolsonarismo e do conservadorismo, a exemplo de Rodrigo Constantino e Paulo Figueiredo.
Ambos costumam desprezar os colegas com visão diferente e defendem ações polêmicas, como o pedido do PL para anular os votos de milhares de urnas eletrônicas no 2º turno.
A Jovem Pan continuará a mesma? Vai mudar para recuperar os milhões pagos pelo YouTube? Hoje, tudo é incerto, assim como o futuro do bolsonarismo na grande mídia após a posse de Lula em 1º de janeiro.