Desde a vitória de Lula nas urnas, em outubro de 2022, nota-se um esvaziamento de âncoras e comentaristas de direita nos canais de notícias de maior audiência.
Vista como bolsonarista e com linha editorial conservadora, a Jovem Pan News demitiu a maioria dos jornalistas com esse perfil.
O mais recente foi Tiago Pavinatto, do ‘Linha de Frente’. Jurista e professor de Direito, ele representava na TV os gays de direita, um grupo duramente atacado na comunidade LGBTQIAP+, na política e no ambiente acadêmico.
O desligamento ocorreu por não cumprir uma ordem da direção de jornalismo a respeito de um comentário considerado ofensivo contra um magistrado.
“Eu jamais pediria desculpas por me revoltar contra um desembargador que inocentou um pedófilo septuagenário argumentando que a criança estuprada era prostituta e drogada”, esclareceu no Twitter.
Dias antes, o mesmo canal perdeu Antônia Fontenelle. A atriz e youtuber chegou a comandar um talk show que recebia nomes conhecidos do conservadorismo. Nos últimos tempos, atuava como comentarista no ‘Morning Show’.
“Eu liguei e pedi: ‘Rescinde esse contrato pra mim, por favor, que eu não quero mais. Não tá legal, não tá fazendo bem’”, relatou em vídeo na web. Ela disse ter se sentido desrespeitada por interrupções frequentes ao vivo e reclamou de dois colegas de programa.
Na CNN Brasil, em fase de reestruturação da programação a fim de tentar atrair mais público, as demissões de Janaína Paschoal e Felipe Moura Brasil enfraqueceram o time de pensadores de direita do canal.
Na sexta-feira (25), a emissora dispensou também Samantha Meyer, comentarista mais crítica à esquerda. Sobraram poucos colaboradores de viés conservador nos telejornais da TV.
O retorno de Lula à Presidência para o terceiro mandato e as denúncias de irregularidades contra Jair Bolsonaro encurralaram os âncoras e analistas associados ao bolsonarismo e/ou à extrema-direita.
Os grupos de comunicação com perfil conservador não querem desagradar ao governo, de onde podem sair verbas generosas de propaganda oficial. Fogem também da possível acusação de defender ou apoiar políticos sob investigação. Virou um salve-se quem puder.
Quem surfa nessa onda é a GloboNews, líder de audiência no segmento de notícias da TV paga. Antibolsonarista desde sempre, não precisou fazer mudanças ideológicas em seu elenco de jornalistas porque a maioria deles é explicitamente progressista e simpática às demandas da esquerda.