A cúpula da Globo está de olho no calendário. Conta os dias para a chegada de outubro. O mês promete ser tenso e intenso para o canal de TV mais amado e odiado do Brasil.
No dia 2, as equipes de jornalismo estarão em alerta máximo ao cobrir o primeiro turno das eleições. Há risco real de manifestações violentas contra repórteres e cinegrafistas.
Não está descartada a possibilidade de os profissionais usarem carros não adesivados e microfones sem a canopla com a logomarca da emissora.
Isso aconteceu em coberturas nas ruas após os protestos de junho de 2013, quando alguns jornalistas da Globo sofreram atos de hostilidade quando tentavam gravar matérias ou entrar ao vivo.
No dia 5 de outubro expiram as 5 concessões públicas de TV da família Marinho, referentes às emissoras próprias da Globo em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília e Recife.
Esse é o prazo final para o grupo carioca apresentar o pedido de renovação. Depois da análise do Ministério das Comunicações, sob o comando de Fábio Faria, genro de Silvio Santos, um relatório será enviado a Jair Bolsonaro.
O presidente da República tem a prerrogativa de sancionar ou vetar a renovação, porém, a palavra final cabe ao Congresso Nacional. Como os parlamentares estarão envolvidos nas campanhas, a probabilidade de a decisão – seja qual for – ocorrer ainda este ano é baixa.
Tudo indica que o futuro da Globo será determinado somente pela próxima legislatura, que tomará posse em 1º de fevereiro de 2023. Até lá, os nervos ficarão à flor da pele no canal mais influente nos círculos de poder.
Outubro também vai marcar mudança na principal faixa de teledramaturgia da emissora. ‘Pantanal’ dará lugar a ‘Travessia’, trama sobre fake news e cyberbullying criada pela autora Gloria Perez.
Em 11 semanas no ar, o folhetim rural aumentou em 30% a audiência da faixa das 21h30 às 22h30. Trouxe de volta cerca 1,4 milhão de telespectadores somente na Grande São Paulo.
Com viés de alta no Ibope, ‘Pantanal’ deve entregar média geral acima de 30 pontos. ‘Travessia’ terá o desafio de segurar o índice e consolidar a recuperação da Globo após sua pior crise de público no horário nobre, com a rejeitada novela ‘Um Lugar ao Sol’.
Caso haja segundo turno na eleição presidencial, a Globo pretende fazer o debate final com os dois candidatos no dia 28 de outubro, dois dias antes da ida às urnas.
A presença de Bolsonaro ou Lula, ou de ambos, vai gerar enorme expectativa de enfrentamento contra o mediador, provavelmente William Bonner, âncora e editor-chefe do ‘Jornal Nacional’.
O atual e o ex-presidente aguardam ansiosamente um ‘cara a cara’ com o jornalista. Mais de uma vez, pediram espaço para um confronto ao vivo com ele a fim de contestar reportagens. Foram ignorados.
O debate na Globo pode se transformar em uma desforra dos maiores líderes da direita e da esquerda contra a emissora. Ninguém poderá impedir Bolsonaro e/ou Lula de usar seu tempo de fala para fazer críticas e acusações contra o canal.
Por fim, outubro vai indicar quem ocupará o Palácio do Planalto a partir de 1º de janeiro. Se for novamente Bolsonaro, o Grupo Globo continuará na mira dele e de seus apoiadores, e terá poucas verbas publicitárias do governo federal.
Na hipótese de ser Lula, haverá o fantasma do projeto de regulação da mídia. Um dos pontos defendidos é o fim da propriedade cruzada nos meios de comunicação. Se isso viesse a ser aprovado, o clã Marinho seria obrigado a desmontar seu império.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.