Telejornalismo está muito dependente das pesquisas de votos

Âncoras e comentaristas dedicam horas à análise dos dados e ‘esquecem’ de avaliar as propostas dos candidatos

6 out 2018 - 15h08
(atualizado às 15h09)

Acontece um frenesi nas redações de TV em dia de divulgação de pesquisa de intenção de votos para presidente da República.

William Bonner, do ‘JN’, Cristiana Lôbo, do ‘Fatos e Versões’, e Heraldo Pereira, do ‘J10’: dados do Ibope e do Datafolha dominam a pauta na TV
William Bonner, do ‘JN’, Cristiana Lôbo, do ‘Fatos e Versões’, e Heraldo Pereira, do ‘J10’: dados do Ibope e do Datafolha dominam a pauta na TV
Foto: Divulgação / Reprodução

Os dados dos principais institutos do País, Ibope e Datafolha, são ansiosamente aguardados por apresentadores, repórteres, editores de imagem, videografistas e comentaristas políticos.

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Na GloboNews, âncoras chegam a interromper entrevistas para exibir os dados em primeira mão. Os índices viram manchete na escalada (apresentação das principais manchetes) do Jornal Nacional, que tem prioridade na divulgação dos levantamentos encomendados pela Globo.

O bom senso exige contestar essa dependência que a cobertura jornalística da eleição desenvolveu em relação às pesquisas e na dúbia influência desses números na decisão dos telespectadores-eleitores.

Ocupa-se valioso tempo, especialmente em programas da GloboNews, para esmiuçar os índices. Alguns comentaristas chegam a fantasiar teorias a respeito do sobe e desce dos candidatos na preferência popular. 

Nessa hora, os representantes do Ibope e do Datafolha, que se tornam figuras cativas na TV em ano eleitoral, aplicam a visão estritamente técnica da aferição feita nas ruas para não alimentar devaneios.

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A obsessão pelos levantamentos de propósito de votos é tamanha que a maioria das atrações jornalísticas deixa de lado o importantíssimo exame dos programas de governo e das incoerências de discurso dos candidatos. Essas informações são tão ou mais relevantes do que os pontos – e as margens de erro – apurados.

Há questão correlata: as pesquisas exercem imensurável peso na definição do voto de milhões de pessoas. Suscitam o tal voto útil: muita gente deixa de apoiar candidato mal posicionado nos rankings e pode haver um adesismo a quem está melhor colocado, independentemente de ideologia política e das propostas.

Nesta reta final do primeiro turno há divulgação diária de pesquisas na TV. No domingo, dia da eleição, haverá também a pesquisa de boca de urna. Uma overdose de informação ao público.

Haja memória para tanto número e haja saliva a quem vai passar horas diante das câmeras a espiolhar as estatísticas da mais tumultuada e polarizada eleição desde a redemocratização do Brasil.

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