A polêmica do desconvite da Agrishow ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para privilegiar Jair Bolsonaro no evento, suscita análise a respeito da participação do ex-presidente na TV.
Fora do poder há quatro meses, ele é onipresente nos telejornais e programas de debates, seja pelo imbróglio das joias sauditas, a possível inelegibilidade pelo TSE, o incerto futuro político e as insistentes citações feitas pelo inimigo Lula.
Desde a redemocratização, em 1985, nenhum outro ex-presidente teve tanto espaço midiático após deixar o Palácio do Planalto. Assim como ocorreu com Trump no pós-Casa Branca, Bolsonaro mantém parte relevante da visibilidade e popularidade.
Essa situação parece confundir e até incomodar alguns âncoras e comentaristas de política de grandes emissoras. Há dificuldade em admitir a liderança do ex-capitão. A maioria ainda prefere enxergá-lo apenas como grande vilão da extrema-direita.
Isso fica evidente na Globo e GloboNews, onde a maioria dos jornalistas é declaradamente progressista e antibolsonarista. Na CNN Brasil existe um equilíbrio pautado no saudável confronto de visões entre comentaristas dos dois lados do espectro político.
No final de março, ainda na Flórida, Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista ao vivo de 11 minutos ao ‘Pânico’ da JP News. Foi mais louvado do que questionado.
Falta algum canal com jornalismo robusto conseguir uma entrevista longa com a abordagem de temas imprescindíveis. Tirá-lo do palanque. Por que ainda não aconteceu? Tentaram? Bolsonaro disse ‘não’?
Nota-se a preocupação de evitar acender holofotes sobre o ex-presidente e dar publicidade a seu discurso ideológico. Coincidentemente, fizeram o mesmo com Lula durante a temporada de prisão na PF de Curitiba. Ele pediu algumas vezes para ser entrevistado. As principais TVs o ignoraram.
O telejornalismo tem a obrigação de ser isento e imparcial. Abrir espaço a personagens controversos, como Bolsonaro, serve inclusive para desconstruí-los diante das câmeras.
Ao se omitir, os programas dão ainda mais força à concorrência das redes sociais, onde não há compromisso ético com a verdade.
Um exemplo positivo vem de Portugal. Os canais de maior audiência, como SIC, TVI, RTP e CMTV, entrevistam com frequência o líder do partido de extrema-direita André Ventura. Expor o radicalismo dele ajuda o telespectador a formar sua própria opinião.