O dilema de Charles sempre foi conhecido: desde o 1° dia de vida, ele precisava que a mãe morresse para assumir o trono e cumprir a missão como herdeiro. Ou então que Elizabeth II abdicasse.
O primeiro episódio da 5ª temporada de 'The Crown' (Netflix) traz o Príncipe de Gales buscando influenciar o então Primeiro-Ministro, John Major (Jonny Lee Miller), de que a renúncia da rainha à Coroa seria o melhor para a nação.
Naquele momento, o Reino Unido enfrentava uma crise econômica e a monarquia estava com a popularidade em baixa.
Alimentando intrigas nos bastidores dos palácios e com a ajuda de parte da imprensa, Charles buscou enfraquecer a imagem da monarca.
Numa cena, ela fica abalada ao ler em um jornal sobre o apoio de metade dos britânicos para abdicar em favor do filho.
A matéria diz que boa parte dos súditos a considera "velha" e "irrelevante". Era agosto de 1991, a rainha tinha 65 anos.
O título do episódio, 'Síndrome da Rainha Victoria', se refere à firmeza da lendária monarca do século 19 em permanecer no trono, sem considerar as críticas e a ansiedade do filho, Albert Edward (futuro Edward VII), em se tornar rei.
Indiferente à pressão, ela ficou 64 anos no trono. Só saiu morta, aos 81, em 1901. Sua tataraneta fez o mesmo: Elizabeth II aguentou firme e abriu o caminho a Charles somente ao morrer de velhice, em setembro deste ano, aos 96. O príncipe se tornou rei aos 73.
A nova temporada de 'The Crown' traz Imelda Staunton no papel da rainha, antes defendido por Olivia Colman e Claire Foy. A veterana está assombrosamente bem em cena.
O trabalho de caracterização a deixou parecida com a soberana, e sua atuação consistente evidencia como a rainha sofreu em silêncio com o peso da idade e seu apego às tradições.
Já o Charles feito por Dominic West parece distante do príncipe que conhecemos, agora rei Charles III. Não há semelhança física. Esse aspecto incomoda porque o ator das duas temporadas anteriores, Josh O'Connor, lembra muito Charles.
O registro dramático de West pinta um homem viril, destemido, ousado e sexy — tudo o que nunca enxergamos no herdeiro desenxabido que viveu à sombra de Elizabeth II.
