Trama sobre acessibilidade é um acerto da autora Gloria Perez em ‘Travessia’

Novela expõe o sofrimento físico e emocional de milhões de brasileiros em um mundo hostil a quem tem limitações

25 dez 2022 - 08h15

Em cenas do capítulo de sábado (24) de ‘Travessia’, o dono de bar Nunes (Orã Figueiredo) sente na pele a dificuldade de ter uma limitação física, seja temporária ou definitiva, no Brasil. 

Em cadeira de rodas após um tombo, ele é rejeitado por um taxista e humilhado por um motorista de ônibus. Situações relatadas frequentemente por cadeirantes e usuários de outros equipamentos auxiliares, como muletas e andadores. De acordo com o IBGE, 24% da população do País (cerca de 50 milhões de pessoas) têm alguma deficiência. 

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No caso do ranzinza Orã, o transtorno serve como choque de realidade. Ele sempre rejeitou os apelos da advogada cadeirante Juliana (Tabata Contri) para promover a acessibilidade em seu estabelecimento. Se negou a fazer uma simples rampa para facilitar o acesso da calçada ao salão do bar. 

Agora ele sofre para entrar e sair do próprio negócio com a cadeira de rodas. Precisa da boa vontade — e do esforço braçal — de funcionários e amigos para vencer os degraus sem correr o risco de uma queda. 

Nunes e Juliana em 'Travessia': novela ressalta a batalha diária de milhões de brasileiros com limitações pelo direito de ir e vir
Nunes e Juliana em 'Travessia': novela ressalta a batalha diária de milhões de brasileiros com limitações pelo direito de ir e vir
Foto: Reprodução/TV

A trama é um acerto da autora Gloria Perez, que sempre insere marketing social em suas novelas. Já abordou outras questões importantes, como a barriga solidária para gestar crianças (‘Barriga de Aluguel’, 1990), o desaparecimento de pessoas (‘Explode Coração’, 1995), a ética sobre a clonagem (‘O Clone’, 2001), o preconceito em torno da esquizofrenia (‘Caminho das Índias’, 2009) e a transexualidade (‘A Força do Querer’, 2017). 

Em ‘Travessia’, Tabata Contri exala carisma em atuação convincente. É o primeiro papel de destaque da atriz, paraplégica em consequência de um acidente de carro no Réveillon de 2001. Ela tinha 20 anos. 

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Antes, apareceu em alguns capítulos de ‘Água na Boca’, na Band, em 2008, e fez uma rápida participação em ‘Viver a Vida’, da Globo, no ano seguinte. 

Além de contracenar com o bronco Nunes, sua personagem no folhetim das 21h auxilia a protagonista Brisa (Lucy Alves) na batalha jurídica contra Ari (Chay Suede) pela guarda do filho deles, Tonho (Vicente Alvite). 

Tomara que a antipatia inicial entre Nunes e Juliana, agora amenizada pela solidariedade, termine em um sentimento mais intenso. Seria interessante vê-los formar um casal romântico entre andante e cadeirante.

Antes indiferente à acessibilidade, Nunes se vê 'preso' no próprio bar, onde não há rampa para cadeirante
Foto: Reprodução/TV
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