Em cenas do capítulo de sábado (24) de ‘Travessia’, o dono de bar Nunes (Orã Figueiredo) sente na pele a dificuldade de ter uma limitação física, seja temporária ou definitiva, no Brasil.
Em cadeira de rodas após um tombo, ele é rejeitado por um taxista e humilhado por um motorista de ônibus. Situações relatadas frequentemente por cadeirantes e usuários de outros equipamentos auxiliares, como muletas e andadores. De acordo com o IBGE, 24% da população do País (cerca de 50 milhões de pessoas) têm alguma deficiência.
No caso do ranzinza Orã, o transtorno serve como choque de realidade. Ele sempre rejeitou os apelos da advogada cadeirante Juliana (Tabata Contri) para promover a acessibilidade em seu estabelecimento. Se negou a fazer uma simples rampa para facilitar o acesso da calçada ao salão do bar.
Agora ele sofre para entrar e sair do próprio negócio com a cadeira de rodas. Precisa da boa vontade — e do esforço braçal — de funcionários e amigos para vencer os degraus sem correr o risco de uma queda.
A trama é um acerto da autora Gloria Perez, que sempre insere marketing social em suas novelas. Já abordou outras questões importantes, como a barriga solidária para gestar crianças (‘Barriga de Aluguel’, 1990), o desaparecimento de pessoas (‘Explode Coração’, 1995), a ética sobre a clonagem (‘O Clone’, 2001), o preconceito em torno da esquizofrenia (‘Caminho das Índias’, 2009) e a transexualidade (‘A Força do Querer’, 2017).
Em ‘Travessia’, Tabata Contri exala carisma em atuação convincente. É o primeiro papel de destaque da atriz, paraplégica em consequência de um acidente de carro no Réveillon de 2001. Ela tinha 20 anos.
Antes, apareceu em alguns capítulos de ‘Água na Boca’, na Band, em 2008, e fez uma rápida participação em ‘Viver a Vida’, da Globo, no ano seguinte.
Além de contracenar com o bronco Nunes, sua personagem no folhetim das 21h auxilia a protagonista Brisa (Lucy Alves) na batalha jurídica contra Ari (Chay Suede) pela guarda do filho deles, Tonho (Vicente Alvite).
Tomara que a antipatia inicial entre Nunes e Juliana, agora amenizada pela solidariedade, termine em um sentimento mais intenso. Seria interessante vê-los formar um casal romântico entre andante e cadeirante.