Houve um tempo em que havia ampla torcida para que o SBT alcançasse a Globo no Ibope. A imagem simpática da emissora de Silvio Santos a tornava uma espécie de Davi diante do gigante Golias.
Sem o mesmo dinheiro nem igual tecnologia, o canal paulista se destacava pelos talentos e a criatividade. Era um prazer assistir à sua programação. Fazia jus ao slogan criado em 2009, "A TV mais feliz do Brasil".
TV que nos divertiu com atrações lendárias: 'Bozo', 'Domingo no Parque', 'Namoro na TV', 'Show de Calouros', 'Hebe', 'Domingo Legal', 'Viva a Noite', 'Porta da Esperança', 'Qual é a Música?', 'Programa Livre', entre tantos outros.
Assumidamente popular, a emissora lançada em 1981 se baseava em entretenimento simples que nos fazia rir e se emocionar. Sua despretensão e carisma se opunham à imagem por vezes arrogante da poderosa Globo.
Limitações econômicas e a renovação da Record TV, que se tornou a rival mais direta, frearam a corrida do SBT rumo à liderança. O canal teve dificuldade de se renovar artisticamente. Estagnou.
Nos últimos dois anos, foi afetado por outra questão: o apoio de Silvio Santos a Jair Bolsonaro rendeu politização desnecessária e prejudicial. A TV mais liberal do País ganhou o rótulo de direitista e conservadora.
Episódio recente com Patrícia Abravanel colaborou com essa percepção. A apresentadora, filha 04 do dono, disse que pessoas LGBTQIA+ precisam aceitar a incompreensão da parte de quem teve educação tradicional, como ela própria. Ativistas consideraram essa fala um argumento em prol da intolerância.
Qualquer empresa de comunicação tem o direito de se posicionar no espectro político. Nos Estados Unidos, grandes canais se declaram alinhados aos democratas (como a CNN) e aos republicanos (a exemplo da Fox News).
O problema surge quando a opção ideológica interfere no conteúdo, faz a linha editorial ser tendenciosa e afasta parte do público. Nesse cenário, tudo passa a ser visto pelo filtro da militância e suscita interpretações radicais, distantes da isenção.
Seria entusiasmante ver o SBT voltar a ser aquele canal alegre, com espírito brejeiro e ousado, livre de doutrinas limitantes, com a cara do brasileiro irreverente. Uma versão moderna da velha TVS que conquistou tantos fãs.
Infelizmente, hoje, as principais redes de TV do Brasil estão contaminadas pela politização. Foram divididas, de maneira reducionista, entre pró e contra Bolsonaro, pró e contra Lula, pró e contra isso ou aquilo. No meio dessa confusão está o telespectador.
Principal veículo de comunicação do País, a televisão vive tempos estranhos que lembram aquele irritante chuvisco na tela, de quando o sinal saía do ar. Entende-se a frustração de quem liga a TV não para militar, mas apenas a fim de se distrair ou receber notícias.