“Convencido, arrogante”, disse Sonia Abrão ao analisar Rodriguinho no ‘BBB24’. A apresentadora vocalizou o que pensa parcela relevante de telespectadores.
O cantor de pagode não perde a oportunidade de reafirmar posição econômica superior na comparação com a realidade dos ‘pipocas’ da casa.
Desdenhou inclusive da quantia que o vencedor do reality show da Globo poderá ganhar. “Três ‘milhão’, com todo respeito, o que eu deixei de show é isso, pra tá aqui.”
Esse pedantismo não é exceção.
Quem conhece um pouco dos bastidores da TV, onde circulam diferentes perfis – grandes artistas, subcelebridades, famosos decadentes e semianônimos que se acham estrelas – reconhece tal padrão de comportamento.
Muitos exibem um ego inflado com a necessidade ininterrupta de autoafirmação. Para isso, se elogiam a todo momento e querem aplausos frequentes. Precisam dessa validação para se sentir aceitos e confiantes.
Não cansam de elencar os bens materiais que possuem, como se o poder financeiro fosse uma qualidade moral. Demonstram desinteresse ou desprezo pelas conquistas alheias. Comparam-se com os outros para provar hipotética supremacia.
Um autoengano baseado no narcisismo, conforme o psiquiatra austríaco Sigmund Freud descreveu no início do Século XX, destruindo a ideia anterior de um ser humano dono da própria verdade e 100% consciente da realidade. O narcisista vive em um mundo fantasioso, onde tudo gira em torno dele.
“Tenho tudo... Sou uma fraude, me sinto tomando o lugar de alguém”, afirmou Rodriguinho. “Foi lá apenas para ser cancelado”, responderam usuários de redes sociais. Em outro momento, o cantor decretou que seus fãs salvariam os aliados dele do Paredão. Não tem noção do grau da própria impopularidade. Está fora de órbita.
Numerosas personalidades midiáticas se enxergam mais influentes e bem-avaliadas do que realmente são. Mantêm-se desconectadas da vida real e das mudanças impostas pela passagem do tempo, incluindo a perda de status. Ficam presas ao passado a fim de não enfrentar o incômodo presente. “Cada um alcança a verdade que é capaz de suportar”, escreveu o psicanalista francês Jacques Lacan.
Ao oferecer tanta munição a adversários na casa e aos telespectadores, por meio de declarações e atitudes esnobes, o pagodeiro vira inimigo de si mesmo. “Não fale bem de você aos outros, não vai convencê-los. Não fale mal, pois vão te julgar muito pior do que é”, disse o filósofo chinês Confúcio. As falhas de Rodriguinho ganham gigantismo com a repercussão do programa e o rigor de quem o assiste ocupando o papel de árbitro.
O cantor não é o único a acreditar que é o protagonista absoluto do reality mais visto da televisão. A tiktoker Vanessa Lopes também age dessa maneira. Está convicta de que músicas e mensagens são escolhidas exclusivamente para influenciá-la, e vê ações premeditadas para prejudicá-la em atitudes triviais de outros competidores.
Ela se considera importante por ter 40 milhões de seguidores. A maioria dos brasileiros nunca tinha ouvido falar de seu nome antes do ‘BBB’. Mais um caso de fama nichada que provoca distorção. Nas redes sociais, o público replica com deboche e preocupação com sua saúde mental.
Um provérbio alemão serve de profecia às pessoas absortas e cabotinas: “A arrogância vem antes da queda”. Cedo ou tarde, o tombo acontece. A rapper Karol Conká viveu esse doloroso choque de realidade no ‘BBB21’. Ela só conseguiu se levantar com extremo esforço. Diz ter aprendido a lição.
Ainda que seja associado ao papel de vilão, Rodriguinho não merece o cancelamento. Essa cultura de linchamento virtual precisa ser combatida com firmeza, assim como aqueles que enviam mensagens de ódio e ameaças de morte à família dele. Há legitimidade na discordância e na crítica, jamais em ações criminosas no suposto anonimato da internet. Vanessa Lopes também deve receber tratamento respeitoso.