A TV Brasil surpreendeu em dezembro de 2021. Registrou média de 0,35 ponto de audiência no ranking da Kantar Ibope Media. Ocupou a quinta posição entre as emissoras mais assistidas, atrás de Globo, Record TV, SBT e Band. Superou a RedeTV!, que marcou 0,30.
O desempenho positivo do canal do governo federal teve a contribuição valiosa de ‘Os Dez Mandamentos’, novela bíblica da Record TV, exibida originalmente em 2015, e transmitida na emissora estatal desde abril do ano passado. Alguns capítulos geraram 1 ponto de audiência, índice raramente atingido pela TV Brasil, e enfraqueceram o apelido pejorativo de “TV do traço”. A trama termina na terça (11).
Na época, a compra dos direitos por R$ 3,2 milhões suscitou polêmica. Na imprensa e nas redes sociais, o canal foi questionado por ter adquirido, sem licitação, um produto da Record TV, emissora simpática ao presidente Jair Bolsonaro, e com teledramaturgia baseada em religião, já que pertence a um Estado laico, de acordo com a Constituição.
A cúpula da TV Brasil ignorou a controvérsia. A assessoria de comunicação do canal acaba de divulgar a compra de outro folhetim da Record TV. Exibida pela primeira vez entre 2004 e 2005, ‘A Escrava Isaura’ estreia na quarta (12), às 20h.
Inaugurada em dezembro de 2007, a TV Brasil ganhou o rótulo de ‘TV do Lula’. Ao longo das presidências do petista e de sua sucessora, Dilma Rousseff, a emissora foi alvo frequente de críticas por receber milhões de dinheiro público sem produzir audiência relevante.
Na campanha eleitoral de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro prometeu extinguir ou privatizar o canal. “Essa TV não serve para nada”, disse em entrevista à Record TV. Logo no início do mandato, aliados no Congresso o aconselharam a manter a emissora.
“Foram feitos cortes de despesas e mudanças na programação. Hoje, a ‘TV do Lula’ está se tornando, na visão de inúmeros jornalistas e políticos, a ‘TV do Bolsonaro’. Não há mais o risco de ser desmontada”, destacou o blog em outubro de 2020.
A TV Brasil já se mostrou bastante útil ao bolsonarismo, como na transmissão de jogos da Seleção Brasileira, quando o presidente foi nominalmente elogiado por locutores das partidas.
Várias viagens e eventos com a presença dele têm merecido cobertura especial do canal. Ao longo de 2021, a TV estatal interrompeu a programação dezenas de vezes para exibir discursos do presidente.