Fascínio por séries sobre crimes tem a ver com medo de ser a próxima vítima 

Produções com foco em assassinatos, abusos e outros dramas humanos impulsionam as plataformas de streaming

20 mar 2024 - 18h29
(atualizado às 18h31)

Em 2023, ‘Pacto Brutal: o Assassinato de Daniella Perez’, da então HBO Max (agora Max), foi uma das séries documentais mais assistidas no planeta. 

Lançada em fevereiro deste ano, ‘MC Daleste – Mataram o Pobre Loco’, do Globoplay, disparou no ranking de visualizações. 

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Houve forte repercussão também dos documentários sobre a garota Isabela Nardoni, a ex-pastora e deputada Flordelis, o casal Elize e Marcos Matsunaga, o menino Evandro Caetano, a onda de assassinatos ligados ao jogo do bicho no Rio, os crimes sexuais do médium João de Deus, entre outros casos que chocaram o Brasil. 

Por que tantas pessoas se sentem atraídas por programas com histórias reais de morte e abuso? Há perversão nesta curiosidade a respeito do sofrimento alheio? 

O blog consultou o psicólogo e escritor Alexander Bez, especialista em relacionamentos.

Raiva, medo, tristeza, indignação: séries sobre crimes famosos despertam múltiplos sentimentos no espectador
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Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV

Como explicar o grande interesse por séries sobre crimes? 

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Existem várias razões, como mera curiosidade, busca por conhecimento e aprendizado, averiguar até onde vai a maldade humana e possivelmente fatores religiosos. Muitas pessoas assistem para compreender a mentalidade desses perpetradores do mal e, com isso, se sentem mais seguras e protegidas dessas ações. Ver a justiça sendo feita pode ser o elemento crucial para cativar o interesse. Outras pessoas assistem por terem sido vítimas de algo parecido. De maneira remota, acreditam que estão resolvendo o próprio caso, não necessariamente por meio de um delírio, mas como uma associação psicológica. Vale ressaltar que se a pessoa tiver uma personalidade psicótica, o consumo desses conteúdos pode se dar pela fascinação de ver o mal acontecer. 

Há contradição entre o medo da própria morte e a curiosidade pela morte alheia? 

O interesse não é bem pela morte dos outros, mas especialmente pela brutalidade humana. O conhecimento mental sobre essas ações elucida a monstruosidade que habita as mentes criminosas. Não vejo contradição, mas sim a busca de proteção contra as pessoas que são capazes de tudo. 

Apesar de jornalísticas, essas séries sobre fatos horríveis acabam ganhando aspecto de entretenimento. O que acha disso? 

São produções importantes para elucidar que psicopatas, estupradores e pedófilos não mudam. Contribuem para diminuir a romantização sobre os criminosos e seus delitos. Não usaria a palavra ‘entretenimento’ e sim ‘aprendizado’, como também ‘informação’. 

Esse tipo de programa pode gerar algum dano à saúde mental de quem assiste? 

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Nos EUA, uma pesquisa recente mostrou que 76% das pessoas que assistem a esse formato de atração buscam por mais informações do funcionamento mental dos criminosos para se prevenir. Pessoas com transtornos de pânico, estresse pós-traumático, ansiedade e depressão, ou que já foram vítimas em quaisquer circunstâncias, não devem assistir. Ao se preservar, evitam a piora de qualquer sintoma remanescente do trauma. Se não há histórico de doenças mentais, não existe risco de danos para a saúde mental. 

Falar sobre a morte ainda é tabu na maioria das famílias. Há quem acredite que atrai azar. Deveríamos normalizar o debate sobre o tema? 

Depende da família, da cultura, da criação e das próprias convicções, como também da orientação religiosa. Nesse caso não há certo ou errado, mas sim um entendimento de como se deve agir, buscando sempre informações verídicas para não cair em sofrimentos desnecessários.

O psicólogo Alexander Bez entre uma cena de 'Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez' (Max) e uma imagem de 'Isabella: O Caso Nardoni' (Globoplay)
Foto: Reproduções / Divulgação
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