‘Bonner está namorando uma fisioterapeuta’, ‘Evaristo Costa posta foto dos pés’, ‘Olheiras de Sandra Annenberg assustam redes sociais’, ‘Rachel Sheherazade revela como conheceu o noivo’.
Algo parece errado quando aspectos pessoais de jornalistas de TV sobrepõem o conteúdo que eles produzem diante das câmeras.
A superexposição nas redes sociais – voluntária ou por meio de posts e memes alheios à vontade – fez com que muitos âncoras de telejornais passassem a ser vistos como artistas.
Essa confusão na imagem pública pode ser perigosa. Jornalista não é ator. Não tem a função de interpretar e entreter, e sim informar e, eventualmente, analisar o noticiário.
Ao ganhar status de celebridade, com a vida relatada como se fosse a de um ídolo de novela, o jornalista corre o risco de se distanciar da imparcialidade e credibilidade imprescindíveis à função.
Evaristo Costa, por exemplo, gera manchetes quase diariamente pelos posts divertidos no Instagram.
As tiradas de humor até ganharam destaque na edição desta semana da revista ‘Veja’. Já seu trabalho no ‘Jornal Hoje’ só repercute quando comete erros e gafes.
Teoricamente, não há problema nisso. Afinal, o apresentador jamais deve aparecer mais do que a notícia.
Contudo, neste caso e no de tantas outras estrelas do telejornalismo, o interesse do público pela vida íntima acaba por ofuscar – e, às vezes, desprezar – a produção jornalística do apresentador.
Talvez tenha sido para evitar essa distorção que William Bonner interrompeu as atividades no Twitter e no Instagram.
Desde 31 de janeiro, o ‘tio’, como ele se autoapelidou, não interage com seus 12,5 milhões de seguidores.
A razão é óbvia: a separação midiática de Fátima Bernardes, anunciada em agosto, fez o âncora e editor-chefe do ‘Jornal Nacional’ subir ao topo do ranking de fofocas. Ele passou a ter a intimidade monitorada.
O novo relacionamento virou notícia – Bonner foi parar na capa de uma revista popular na semana passada – e os paparazzi estão em busca do primeiro flagra do jornalista com a namorada, assim como a imprensa age com os romances de galãs e heroínas de folhetins.
Na sexta-feira (28), Sandra Annenberg apareceu na imprensa mais do que atrizes famosas por conta da falta de maquiagem ao fazer um boletim sobre a greve geral. O interesse por suas olheiras quase eclipsou a relevância dos protestos.
Essa idolatria misturada com superexposição demonstra ser irreversível. Afinal, a internet é incontrolável e não perdoa uma oportunidade de expor o ‘outro lado’ de quem dá a cara a tapa na televisão.
Cabe a cada jornalista determinar os limites da vida privada, da divulgação espontânea da intimidade e da interação virtual com seus webfãs.