Boatos de um remake de ‘Xica da Silva’ na Globo em 2025 agitaram os bastidores da emissora e o jornalismo de entretenimento nos últimos dias.
Exibida pela extinta TV Manchete entre setembro de 1996 e agosto de 1997, a novela de época foi um sucesso ao abusar da sátira, da sensualidade e de cenas de violência.
Entraram para a história da teledramaturgia as longas sequências de nudez de algumas atrizes. O recurso era usado explicitamente para aumentar a audiência.
Não havia o politicamente correto em ‘Xica da Silva’. Escrava elevada a sinhá, a protagonista vivida por Taís Araújo era xingada de “macaca” a todo instante pelos desafetos brancos.
Em tempo de excessivo patrulhamento moral como o de agora, difícil acreditar que a Globo banque todas as ousadias do roteiro.
Uma nova versão do folhetim só se justifica com a manutenção do deboche, das críticas sociais e das inconveniências do texto original.
Aplicar uma autocensura a fim de adequar a novela às cartilhas de decoro da atualidade destruiria a valiosa originalidade da obra.
Aliás, um dos maiores problemas da teledramaturgia atual da Globo é o medo do cancelamento. Tudo é pasteurizado para não ferir diferentes ativismos. Oportunidades de discutir temas relevantes são perdidas.
Então contratado do SBT, Walcyr Carrasco usou o pseudônimo Adamo Angel para escrever ‘Xica da Silva’ sem que o patrão Silvio Santos soubesse da ‘traição’.
A descoberta pela imprensa da verdadeira identidade do autor, no meio da novela, deu uma pitada a mais de audácia à produção.
No momento, Carrasco escreve ‘Terra e Paixão’, trama séria demais na comparação com seu estilo irônico. Reescrever ‘Xica da Silva’ talvez o fizesse recuperar a zombaria que divertiu os noveleiros há quase 30 anos.