Ir a uma peça realizada por Zé Celso Martinez Corrêa era participar de uma experiência baseada no hedonismo. O espectador sabia o que encontraria. A começar por nudez despudorada.
O diretor sempre despiu seus atores para provocar o moralismo ainda vigente – e dimensionado com a ascensão do conservadorismo via extremismo político.
Os artistas desfilavam pelo Teatro Oficina com os corpos oferecidos aos personagens e ao público. Simulações de sexo – bastante convincentes – chocavam os pudicos.
A nudez, o sexo e a luxúria eram usados para conectar o texto, os atores e o público ao que Zé Celso mais prezava: a liberdade de seguir impulsos e desejos, sem vergonha, sem culpa, sem medo.
Pênis, vaginas e bundas eram exibidos para ressaltar o quanto o ser humano aprendeu a ter vergonha de si mesmo a partir de dogmas de dominação impostos por religiões e regimes de governo.
Ao mesmo tempo, eram um convite para se desprender das ideias limitadoras que fazem a maioria das pessoas se cobrir por fora e por dentro, escondendo algo bem mais profundo e intenso do que o corpo.
Ele levava ao palco a força da conexão mais íntima. “Quando você está na cama com uma pessoa, você sai desse tempo, entra num outro. É a mesma coisa com a arte”, disse certa vez. Assistir a seus espetáculos era entrar numa outra dimensão, diferente da caretice do mundo lá fora.
Ele não agradava a todos. “Geralmente, as pessoas desviam para não me ver”, disse a Antônio Abujamra, no ‘Provocações’, em 2002. Para descrever seu método de trabalho, recorreu à poesia marginal. “Sou uma espécie de cafetina, gosto de perceber os desejos dos outros.”
Zé Celso foi aquele tipo raro de pessoa que viveu sempre como quis, livre de regras, mergulhado na própria essência borbulhante. Morreu de maneira dramática, como grandes heróis e anti-heróis de clássicos do teatro. Virou eterno.