Em menos de um ano, duas companhias que oferecem pacotes de viagens com datas flexíveis viram seus modelos de negócio fracassarem em razão de fatores econômicos e de mercado. Tanto 123milhas quanto Hurb deixaram de oferecer pacotes promocionais aos clientes.
Embora sejam duas companhias com volume de demandas diferentes, a 123milhas e a Hurb têm modelos de negócios semelhantes, que permitem comparar os dois casos que levaram à incapacidade das companhias de realizar as viagens nos preços contratados. Ambas informaram que a suspensão dos pacotes promocionais é resultado de "fatores econômicos adversos", correspondente à pressão da demanda e ao preço das tarifas aéreas.
Para o assessor jurídico da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV), Marcelo Oliveira, esses "fatores externos" podem ser questões cambiais, tributação, além da relação entre oferta e demanda.
"São vários fatores. Tem a questão cambial, o combustível, a tributação, a própria oferta e procura do momento. Por exemplo, se há dois anos a companhia ofertou uma passagem a R$ 500 e hoje está valendo R$ 2 mil, isso causa uma instabilidade e uma insustentabilidade para o negócio, obviamente", avaliou.
Para Oliveira, esse modelo de negócio já não se sustenta mais. "Esse é um modelo que realmente, aos nossos olhos, apresenta uma desconexão com aquilo que, em tese, é o normal e é o padrão, até a nível mundial", acrescenta.
Como é o modelo de negócio da 123milhas e da Hurb
- É feita uma prospecção de preços baixos de passagens e hospedagens para oferecer valores abaixo do trabalhado no mercado;
- É vendido os destino antecipadamente, mas as companhias não emitem bilhete;
- Os bilhetes não são emitidos, pois é necessário buscar os dias de voo e estadia mais baratos;
- A empresa usa vários algoritmos para fazer a busca. Se tiver dentro da margem de lucro, as companhias emitem o bilhete.
Entenda o que aconteceu com a 123milhas
- LINHA 'PROMO' SUSPENSA: A 123Milhas anunciou que não emitirá passagem da linha promocional com embarques previstos de setembro a dezembro de 2023. As vendas foram interrompidas desde o último dia dia 16.
- DECISÃO "DE MERCADO": A empresa alegou que a decisão foi motivada por "fatores econômicos e de mercado", como taxa de juros e alta demanda por voos, que mantém as tarifas elevadas mesmo na baixa temporada.
- QUAL A SITUAÇÃO DA EMPRESA: A 123Milhas não dá detalhes sobre sua situação financeira, e limita-se apenas a dizer que continua comprometida com o propósito de proporcionar a mais pessoas experiências "mais acessíveis" em turismo.
- IMPACTO PARA CONSUMIDORES: A empresa afirmou que irá devolver integralmente os valores pagos pelos clientes, com correção monetária acima da inflação, por meio de vouchers. As passagens já emitidas, que possuem localizador ou e-ticket, estão mantidas.
- MPF SE MANIFESTOU: O Ministério Público Federal (MPF) oficiou a 123milhas para que a empresa responda se é possível ressarcir em dinheiro os consumidores afetados. O MPF destaca que a opção de reembolso por meio de voucher não pode ser impositiva e nem exclusiva.
- O QUE FAZER NESSE CASO: O consumidor pode aceitar o voucher oferecido pela empresa, entrar com uma reclamação no Procon e abrir um processo judicial contra a 123Milhas.