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3 razões por que 'tarifaço' de Trump não é o único problema da China

Os alertas de que a economia da China vai desacelerar em 2025 estão aumentando, em meio à crise imobiliária e à diminuição do nível de consumo dos chineses

18 jan 2025 - 15h41
Trump diz que seus assessores têm conversado com a China desde a eleição
Trump diz que seus assessores têm conversado com a China desde a eleição
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A China divulgará em breve os números do PIB (Produto Interno Bruto) para 2024, que deve ter sido afetado por uma crise imobiliária, endividamento do governo e desemprego entre jovens.

Pequim estabeleceu uma meta de crescimento de "cerca de 5%". Em dezembro de 2024, o presidente Xi Jinping disse que o país — segunda maior economia do mundo — estava a caminho de cumprir a meta.

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"Como sempre, crescemos em meio à tempestade, e ficamos mais fortes em tempos difíceis. Devemos ter confiança", disse ele.

Em geral, os especialistas concordam: o Banco Mundial diz que a China pode atingir um crescimento anual de 4,9% devido ao aumento das exportações e do baixo custo do empréstimo no país.

Os investidores, no entanto, estão se preparando para a ameaça de Trump de cobrar impostos sobre os US$ 500 bilhões (R$ 3,018 trilhões) em produtos chineses importados pelos EUA.

E esse não é o único fator que pode impedir a China de atingir suas metas de crescimento em 2025.

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A confiança dos empresários e consumidores está baixa e a moeda chinesa (o yuan) continuará a enfraquecer à medida que Pequim corta as taxas de juros em uma tentativa de impulsionar o crescimento.

Entenda três razões pelas quais a China tem desafios maiores do que as taxas de Trump.

1. Impostos já estão afetando as exportações da China

Os alertas de que a economia da China vai desacelerar em 2025 estão aumentando.

As exportações foram um dos principais fatores de crescimento em 2024 e agora estão em risco.

China apostou na indústria para tentar reverter a desaceleração - então tem exportado um número recorde de carros, impressoras 3D e robôs industriais.

Os EUA, o Canadá e a União Europeia acusaram a China de fabricar produtos em excesso e criaram impostos para produtos chineses para proteger empregos e empresas locais.

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Especialistas dizem que os exportadores chineses podem agora se concentrar em outras partes do mundo.

Mas esses países são provavelmente mercados emergentes, que não têm os mesmos níveis de demanda que a América do Norte e a Europa.

Isso pode impactar os negócios chineses que esperam se expandir, o que, por sua vez, pode atingir os fornecedores de energia e matérias-primas.

Xi quer transformar a China de polo mundial de produtos baratos em uma potência de alta tecnologia até 2035, mas não está claro como a indústria continuaria a ser o principal fator de crescimento diante do aumento dos tributos.

Especialistas dizem que há problemas profundos na economia da China
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

2. As pessoas estão gastando menos

Na China, a riqueza das famílias está em grande parte aplicada no mercado imobiliário.

Antes da crise imobiliária, o setor representava quase um terço da economia da China, empregando milhões de pessoas, de construtoras e incorporadoras a produtores de cimento e designers de interiores.

Pequim implementou uma série de políticas para estabilizar o mercado imobiliário. E o órgão fiscalizador do mercado financeiro do país, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC), disse que apoiará vigorosamente as reformas.

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Mas ainda há muitas casas e propriedades comerciais vazias, e esse excesso de oferta continua a forçar a queda dos preços.

A baixa do mercado imobiliário deve chegar ao fundo do poço este ano.

Mas o banco americano Goldman Sachs diz que a crise será um entrave ao crescimento econômico da China por "vários anos".

E a crise imobiliária já atingiu duramente o consumo das famílias.

Nos últimos três meses de 2024, o consumo das famílias contribuiu com apenas 29% para a atividade econômica da China, abaixo dos 59% que representava antes da pandemia.

Essa é uma das razões pelas quais Pequim aumentou as exportações. O país quer compensar a queda no consumo doméstico com exportação de carros novos, itens de luxo e outros produtos.

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O governo até introduziu programas como trocas de eletrodomésticos, onde as pessoas podem trocar suas máquinas de lavar, micro-ondas e panelas elétricas de arroz por aparelhos novos.

Mas os especialistas se perguntam se esse tipo de medida por si só é suficiente ou se o país precisa lidar com os problemas mais profundos da economia.

Eles dizem que as pessoas precisam de mais renda para que o consumo volte a ser o que era antes da covid-19.

"A China precisa trazer de volta o espírito de consumo da população e ainda estamos longe disso", diz Shuang Ding, economista-chefe para a China e Norte da Ásia no banco britânico Standard Chartered.

"Se o setor privado começar a investir e inovar, isso pode aumentar a renda e as perspectivas de emprego, e as pessoas terão mais confiança para consumir."

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A dívida pública alta e o desemprego também afetaram a poupança e os gastos.

Os números oficiais sugerem que a taxa de desemprego entre os jovens continua alta em comparação com antes da pandemia, e que os aumentos salariais estagnaram.

3. Empresas não estão mais se mudando para a China como faziam antigamente

O presidente Xi prometeu investir nas indústrias de ponta que o governo chama de "novas forças produtivas".

Até agora, isso ajudou a China a se tornar líder em produtos de energia renovável, como painéis solares e baterias de veículos elétricos.

No ano passado, a China também ultrapassou o Japão como o maior exportador de carros do mundo.

As exportações de veículos elétricos têm sido um fator de crescimento para a China
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mas o cenário econômico que deixa a desejar, as dúvidas sobre tarifas e outras incertezas geopolíticas significam que o apetite de empresas estrangeiras por investimentos na China está contido.

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"As empresas não veem um futuro brilhante. E o que o país quer é um conjunto mais diversificado de investidores chegando", diz Stephanie Leung, da plataforma de gestão de patrimônio StashAway.

Por todos esses motivos, os especialistas acreditam que as medidas para apoiar a economia aliviarão apenas parcialmente o impacto de possíveis novas taxas dos EUA.

"Pequim deve tomar medidas grandes e ousadas ou aceitar que a economia não vai crescer tão rápido", escreveu em um relatório recente Hui Shan, especialista em China do Goldman Sachs. "Esperamos que eles escolham o primeiro."

"A China precisa estabilizar os mercados imobiliários e criar empregos suficientes para garantir a estabilidade social", diz Ding, do banco Standard Chartered.

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De acordo com o China Dissent Monitor, iniciativa que monitora a situação sociopolítica chinesa, houve mais de 900 protestos na China entre junho e setembro de 2024, 27% a mais do que no mesmo período do ano anterior. Eles foram liderados por trabalhadores e proprietários de imóveis.

Esse tipo de tensão social como resultado de insatisfações econômicas e perda de riqueza é um problema para o Partido Comunista Chinês.

Afinal, o crescimento explosivo transformou a China em uma potência global, e a promessa de maior prosperidade ajudou amplamente seus líderes a manterem um controle rígido sobre a dissidência.

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