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4 erros dos fundadores que prejudicam o sucesso das startups

Alexandre Waclawovsky, fundador da senior 45!60, desvela os motivos e, como não poderia deixar de ser, apresenta soluções

20 set 2023 - 06h25
Alexandre Waclawovsky, fundador da senior 45!60
Alexandre Waclawovsky, fundador da senior 45!60
Foto: Divulgação

Curiosamente, meu contato com Alexandre Waclawovsky começou a partir de um dos perfis de entrevistados do podcast Vale do Suplício, que produzo para minha coluna, aqui, na seção Homework, do portal Terra. Foi o primeiro texto de todos, que contava a saga de Rodrigo Bernardinelli, cofundador e CEO da Digibee. Wacla, como é conhecido, gostou do jeito que o texto estava escrito e me adicionou ao LinkedIn para parabenizar. Sim, assim mesmo. Esse jeito liberto e expansivo que o faz abordar desconhecidos com palavras de reconhecimento sobre seu trabalho diz muito sobre quem Wacla é.

Não te recriminaria se você pensasse que a abordagem amigável foi motivada por interesse -  afinal, quem não quer fazer contato com um jornalista? Mas há feitos, estes mais concretos, que também dizem quem Wacla é. Fundador da startup 45!60, acumula 25 anos de uma carreira corporativa na qual conduziu marketing, inovação e transformação digital de grandes empresas; é escritor, palestrante, colunista da HSM Management e tem seu próprio podcast, "O Lado I", no qual fala sobre empreendedorismo e intraempreendedorismo e que já está em sua quarta temporada. Em resumo, é alguém com muito a oferecer.

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A startup 45!60 é fruto desse ter muito a oferecer e funciona como uma espécie de mentoria combinada com mão na massa e transferência de conhecimento.  O foco é apoiar fundadores de startup com conhecimentos de negócios, planejamento e mercado que só quem tem experiência consegue acumular.

Um ranço

Aqui entro numa seara delicada, mas que precisa ser invadida sem meias palavras. A glória empreendedora e os feitos daqueles jovens  geniais que mudaram o mundo com suas startups de tecnologia e desafiaram - e até humilharam - os velhos executivos engravatados e seu jeito antiquado de pensar se tornou referência para muitos; movimento natural de contracultura, no qual o velho é ruim e precisa ser combatido; o novo, perfeito e salvador do futuro.

Basta, então, receber aporte de um investidor para a ideia de poder subir à cabeça de um jovem startupeiro, que tem certeza que sua ideia é fantástica e será o próximo unicórnio brasileiro. E quero deixar claro que, aqui, estou falando por experiência própria, baseada em conversas com lideranças da mesma safra geracional que a minha - os malfadados Millenials, que se acham especiais e revolucionários  -  e que confundem informalidade com falta de respeito pelo trabalho alheio; mão na massa com microgestão; posição (temporária) com atestado vitalício de genialidade. Já lidei com muita gente incrível, mas também com cada tipinho que, olha. E o último nem faz tanto tempo assim…

Mas sigamos, porque este espaço está reservado para o Wacla, e não para meus próprios desabafos.

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Para o disruptor não ser disruptado

Em resumo, ao fundador de uma startup cabe o papel de idealizador, o de identificar uma ideia diferente, capaz de mudar um mercado — ou disrupção, para usar a palavra da moda. Mas nem sempre essa pessoa tem base de negócios, governança e outros conhecimentos essenciais para estruturar uma empresa perene. E é aí que Wacla entra. Das sete startups que ele apoiou nos últimos quatro anos, todas tiveram que revalidar a oferta.

O que faz os empreendedores chegarem tão perto do problema, mas não tocarem o cerne da questão, é motivado por alguns comportamentos. Listo quatro aqui, mas se quiser saber todos, te convido a ouvir o papo inteiro aqui.

  • • Visão tecnicista

Líderes de startup geralmente têm um conhecimento técnico bastante aprofundado, mas penam em "juntar o lé com cré" e formar uma visão ampla sobre o negócio. "Gerações mais velhas fazem uma gestão mais holística", explicou. Se os Millenials dominam conceitos de inbound marketing, máquina de vendas, etc, os profissionais da Geração X costumam analisar esses pedaços sob a ótica da gestão de relacionamento com o cliente (CRM, da sigla em inglês). A combinação dessas duas visões, garante Wacla, torna a estratégia de gestão do cliente robusta e poderosa;

  • • Perda de energia

Essa visão direcionada ao micro e o apego a fórmulas prontas e metodologias não raro faz as startups gastarem muita energia para resolver problemas acessórios por simplesmente não enxergarem a questão maior. Mas há uma dose de apego que, por vezes, limita a visão. "É porque resolver o problema principal é mais doloroso e desconfortável", esclarece;

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  • • Falta de contraponto

O fundador é idealista por natureza, e deve ser assim, mesmo. E, como a premissa da startup é giro rápido, energia e leveza gerencial, não precisa ser muito inteligente para concluir que, naturalmente, o time gerencial é formado por pessoas com menos experiência, ou juniores, como chama o corporativo. Então, há pouco repertório e até espaço para contestar a visão do empreendedor visionário. "Uma pessoa mais madura chega e fala que o caminho escolhido não necessariamente está certo, dá pau. Eu já tive pelo menos umas duas experiências que deram muita fricção em algum momento entre mim e o empreendedor", conta.

  • • Dinheiro sobrando

Um ponto extremamente importante, porque quando recursos sobram, o pensamento crítico deixa de ser tão necessário. "No Brasil, especialmente, a gente vem de um tempo de muita abundância de capital. Até um, dois anos atrás, você captava recurso com PowerPoint. Tinha gente que corria a Faria Lima e saía com R$ 2 milhões, R$ 3 milhões", conta. Verba na mão, é hora de seguir a cartilha do startupeiro e ampliar o negócio, construir a máquina de vendas. Bora queimar dinheiro - ou praticar "cash burn", pra ficar mais chique; tacam-lhe contratações aos baldes para perseguir o crescimento retumbante, rumando a startup para o sonho americano do unicórnio. Tudo isso, claro, sem fazer a lição de casa - afinal, isso é coisa de velha guarda, que não funciona nos tempos de hoje. "Você sai de uma equipe de x pessoas para outra de 3x sem ter governança, sem validar a ideia, sem evoluir narrativa comercial. Sem fazer uma série de básicos que você deveria ter feito." Bom, os layoffs recentes não deixam dúvidas que o conhecimento da velha guarda está longe de caducar.

Mas este não foi um papo saudosista, que demoniza o novo na inglória e vexatória tentativa de impor o passado. Como não poderia deixar de ser, mostrou que o caminho do meio, combinando os pontos fortes de cada cultura, é a alternativa mais inteligente. Não a mais fácil, mas certamente a mais inteligente.

E Wacla é a metalinguagem ambulante do que prega: união entre conhecimentos valiosos do passado e flexibilidade para adaptação às dinâmicas do presente. Detentor de uma capacidade de desaprender o que não funciona para aprender o novo, em um movimento quase orgânico, movido por inquietação e otimismo. Para ele, o futuro é "curiosidade pura". "Jamais deixe de ser curioso, portanto." Conselho anotado.

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(*) Adriele Marchesini é jornalista especializada em TI, negócios e Saúde com quase 20 anos de experiência. Depois de passar por redações de veículos como Estadão, Infomoney, ITWeb e CRN Brasil, cofundou as agências essense e Lightkeeper,  as quais já ajudaram mais de 80 empresas na construção de conteúdo narrativo multiplataforma para negócios. É cofundadora do Unbox Project e coâncora do podcast Vale do Suplício. Criado pelas jornalistas Adriele Marchesini e Silvia Noara Paladino, o podcast Vale do Suplício nasceu como uma contracultura aos empreendedores de palco - os típicos CEOs de MEI, escritores de textões no LinkedIn - para contar a história de empreendedores que falam pouco, mas fazem muito. Ouça no Spotify.     

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