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A periferia e suas novas relações de trabalho

7 nov 2022 - 01h00
Foto: Pete Linforth / Pixabay

No auge da pandemia, 46% das empresas brasileiras aderiram ao home office, nos informa a Pesquisa Gestão de Pessoas na Covid-19. 

O número mostra o quanto o digital foi um aliado fundamental para que pequenas, médias e grandes organizações mantivessem seu fluxo e garantissem empregos – e desvela também um questionamento: como a periferia se relaciona com o mundo digital e, consequentemente, com essa nova forma de emprego, materializada no teletrabalho?

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Se o isolamento social levou profissionais com emprego formal a ficarem em casa trabalhando, para moradores de favelas o contexto é diferente: em áreas periféricas espalhadas pelo Brasil, “ficar em casa'' nunca foi uma solução possível. Inúmeras desigualdades foram deflagradas com essa distinção, mas, por ora, podemos nos ater às disparidades digitais. 

Localidades com alto investimento em tecnologias são, via de regra, onde estão as grandes corporações e a maioria das oportunidades de emprego – hoje, muitos deles remotos. Assim, não é raro que uma vaga de emprego traga consigo um potencial excludente entre seus pré-requisitos. Jovens e adultos, sobretudo mulheres periféricas, que buscam um salário fixo e uma carreira de sucesso são apartados dessas vagas porque foram, antes, apartados de um acesso adequado ao digital.

Enquanto a formalidade segue sendo objeto de desejo, por conta da suposta estabilidade, atividades autônomas seguem sendo uma forma plausível de obter renda.

Assim como muitas brasileiras, eu sou uma profissional autônoma. Concluída a graduação em jornalismo, face a face com o desemprego e a falta de grana e ansiosa por me realizar profissionalmente, percebi que poderia, também, contribuir com a sociedade. Me tornei autônoma e construí o Mulheres de Frente, um negócio social voltado para a produção de conteúdo em redes sociais com foco em empreendedoras periféricas e faveladas. 

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Nossas clientes possuem talentos incríveis, que precisam aparecer e atrair nova freguesia, e é por isso que o Mulheres de Frente as auxilia. E é dessa forma que formamos novas parcerias para uma rede de cuidado e de apoio para mulheres em situação de vulnerabilidade. 

Para além de um coleguismo de escritório, as pontes, parcerias e irmandade também podem ser consideradas novas relações de trabalho? Penso que sim: as relações periféricas são construídas na base da união e empatia; quem convive com as faces cruéis da fome, do racismo e dos preconceitos em um país em desenvolvimento entende a necessidade de agrupar formas de construir uma base sólida na busca por uma cidadania justa e igualitária. 

Essa é a nova relação de trabalho que os negócios de impacto social – e o Mulheres de Frente entre eles – estão propondo para as periferias do Brasil. 

(*) Beatriz Carvalho é jornalista, moradora de São João de Meriti-RJ, toca o Mulheres de Frente e escreveu este artigo a convite do Projeto Unbox.

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