O efeito da pandemia e do isolamento social sobre o mercado de trabalho brasileiro foi devastador. A população ocupada recuou 10,7%, o número de pessoas na força de trabalho diminuiu 9,4% e foram destruídos 8,9 milhões de postos de trabalho (6 milhões no mercado informal) no primeiro semestre de 2020, comparado ao mesmo período de 2019.
Com a implementação do isolamento social, a proibição de funcionamento de grande número de atividades e a introdução do auxílio emergencial de R$ 600,00 para os trabalhadores informais, a taxa de participação atingiu o nível mais baixo da série histórica. Em junho, apenas 55,3% das pessoas em idade de trabalhar estavam procurando emprego ou ocupadas.
A combinação de redução da ocupação e diminuição da taxa de participação fez com que a taxa de desemprego saísse de 12,2%, no trimestre janeiro/março, para 13,3%, no trimestre abril/junho. Um crescimento pequeno, dada a intensidade do choque. Entretanto, este é um resultado artificial. Caso a taxa de participação tivesse permanecido constante, a taxa de desemprego teria subido para próximo de 20% da força de trabalho.
A reativação da economia em razão da flexibilização do isolamento social deverá resultar em aumento da demanda por trabalho e da ocupação e a retomada da circulação de pessoas e a redução do auxílio emergencial deverão gerar um aumento da taxa de participação. Essa combinação deverá levar a um aumento da taxa de desemprego até o final de 2020.
A flexibilização do isolamento social está sendo acompanhada de forte retomada da economia. A produção industrial cresceu quase 20% entre maio e junho, o tráfego de veículos pesados em rodovias, um bom indicador de atividade, e as vendas no varejo, exceto veículos e materiais de construção, recuperaram os níveis pré-crise e as expectativas dos empresários seguem na mesma direção.
Esta reação da economia está, pelo menos em parte, relacionada aos estímulos fiscais e monetários implementados pelo governo: o auxílio emergencial, os programas de manutenção de vínculos empregatícios (redução de jornada e de salários), aumento de liquidez e da oferta de crédito a pequenas e médias empresas. Mas estes programas precisarão ser paulatinamente reduzidos ao longo do segundo semestre e descontinuados no final de 2020.
A atual recessão é atípica, não foi causada pelo comportamento da economia, mas sim por um fator exógeno de saúde pública. O efeito sobre o mercado de trabalho decorreu da necessidade de manter as pessoas em casa, o que gerou os choques negativos de oferta e demanda que produziram a brutal recessão. A flexibilização do isolamento social e o retorno à normalidade deverão ter o efeito inverso, com retomada da atividade e do emprego. A questão é com que intensidade.
A reação do mercado de trabalho será fundamental para manter a trajetória de recuperação da economia. Com a redução dos incentivos fiscais e monetários, a geração de postos de trabalho, e, consequentemente, de renda, será o mecanismo capaz de substituí-los. E os primeiros sinais de reação do mercado de trabalho começam a aparecer.
No mês de julho foram gerados 130 mil postos de trabalho formais na economia brasileira, o melhor resultado para o mês desde 2012. Indústria (53 mil), comércio (28 mil) e construção civil (42 mil) mostraram comportamento positivo, mas o setor de serviços ainda mostrou queda no número de ocupações. O número de admitidos aumentou 14% em relação ao mês de junho, enquanto as demissões aumentaram 2%. O crescimento do emprego formal será um importante fator de incentivo para a volta das ocupações informais.
Neste contexto, desonerar a folha de salários, incentivar os MEIs, reduzir os empecilhos à atuação de empresas de intermediação de mão de obra via aplicativos, entre outros, poderão se constituir em importantes mecanismos para manter o crescimento da economia a partir de 2021.
*PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC/RIO, É ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS