A operação norte-americana da MRV&Co, Resia, ainda é um "desafio" dado o contexto de mercado mais difícil nos Estados Unidos, principalmente no que diz respeito a juros, afirmou o copresidente do grupo, Rafael Menin, levando à adoção de uma série de estratégias para torná-la mais "enxuta".
"Olhando mais para a operação, a gente continua com uma boa cadência de aluguel, mas como o juro americano continua muito elevado, a venda da propriedade está mais difícil e quando ocorre essa venda ela é feita num patamar de preço muito abaixo dos patamares históricos", afirmou Menin em teleconferência de resultados nesta quinta-feira, após a divulgação na noite da véspera de balanço financeiro do terceiro trimestre da construtora.
"Olhando de forma prospectiva a gente tem a convicção que a operação da Resia, não só a operação de construção, compra e venda de imóveis, mas também a venda das propriedades, vão estar num patamar, num contexto melhor do que o atual", acrescentou, apostando em um ciclo de queda da taxa básica norte-americana.
Menin afirmou que pretende reduzir o banco de terrenos da subsidiária norte-americana pela metade nos próximos 12 meses.
"A gente vai ficar com um 'land bank' que de fato tem uma rentabilidade que a gente julga adequada para a operação da Resia", disse, acrescentando que o grupo tem "bons terrenos" que serão vendidos a preços "adequados", o que ajudará no balanço da companhia. A Resia teve prejuízo de 52,3 milhões de reais nos três meses encerrados em setembro.
O executivo também destacou uma diminuição de cerca de 30% nas despesas gerais e administrativas (G&A) da subsidiária no terceiro trimestre, prometendo uma nova "onda" de reduções no quarto trimestre e nos primeiros três meses de 2025.
"Vamos ter uma empresa ainda mais enxuta e, em relação a mercados de capitais, seja no que diz respeito ao nível do projeto ou ao nível da holding, a gente continua trabalhando... a gente vê assim um interesse cada vez maior de fundos querendo participar dos projetos, a venda também de ativos estabilizados a gente tem sentido na margem uma melhora 'tri' a 'tri'."
Sobre os impactos da recente eleição do republicano Donald Trump nos Estados Unidos, Menin se limitou a oferecer perspectivas para a operação, afirmando que ainda não é possível saber como será a política fiscal adotada pelo novo governo.
"A gente ficar conjecturando o que pode acontecer em relação a juros é muito difícil... o consenso é que o juro americano tem uma tendência de redução... a direção vai no sentido de ter um juro menor, o que favorece o financiamento dos projetos e favorece também a venda dos projetos."
Quanto às divisões menores do grupo -- a Luggo, de locação de imóveis, e Urba, de loteamentos urbanos --, as operações devem encerrar 2024 com DRE e fluxo de caixa neutro, mas a partir de 2025 "certamente as duas companhias vão entregar tanto DRE como fluxo de caixa positivo", disse Menin.
RESULTADOS DO TERCEIRO TRIMESTRE
A MRV&Co registrou prejuízo consolidado de 12,7 milhões de reais no terceiro trimestre, resultado impactado por efeitos de equity swaps e outras operações financeiras, conforme relatório de resultados divulgado na quarta-feira.
No segmento de incorporação, principal operação do grupo, apurou-se lucro de 46,1 milhões de reais no trimestre encerrado em setembro, após prejuízo no mesmo período do ano passado.
Os executivos da construtora reforçaram nesta quinta-feira em teleconferência a confiança em atingir as projeções definidas no início do ano para a operação em 2024.
Analistas do BTG Pactual disseram que a construtora divulgou resultados mais fracos no período, conforme esperado, com o crescimento da margem bruta sendo compensado por despesas financeiras mais elevadas devido ao alto nível de alavancagem.
"O 'turnaround' da MRV está demorando mais do que o esperado inicialmente, mas acreditamos que as margens brutas estão melhorando no programa MCMV (Minha Casa, Minha Vida). E, uma vez que os projetos da Resia forem vendidos, a alavancagem deve diminuir", afirmaram os analistas Gustavo Cambauva e Elvis Credendio em relatório.
A equipe do BTG manteve recomendação de "compra" para o papel, mas os analistas indicaram que planejam revisar seus números para a companhia.
Por volta das 17h (horário de Brasília), os papéis da MRV&Co recuavam 8,8%, a 6,32 reais cada, entre os piores desempenhos nas ações do Ibovespa, que subia 0,11%, enquanto o índice do setor imobiliário perdia 0,5%.