Na busca pela equidade racial e por um Brasil menos desigual, é preciso pensar no fator financeiro. Para o cientista político Creomar de Souza, consultor de risco político e CEO do hub de inteligência e estratégia Dharma, o “acesso à riqueza importa” e um dos caminhos para isso é proporcionando mais oportunidades para micro, pequenos e médios empreendedores crescerem.
Nesse processo, ele avalia como fundamental considerar a camada étinico-racial, já que a maior parte da população é composta por pessoas negras. “Essa população, por uma série de elementos e uma trajetória histórica, acaba possuindo menos acesso a crédito, menos acesso à riqueza e menos acesso à capacidade de transformar sua própria vida”.
As declarações foram dadas em palestra neste sábado, 18, na 9° edição do Fórum Brasil Diverso e em entrevista ao Terra. O tema deste ano foi 'ESG: a síntese da diversidade, equidade e inclusão’ e partiu do princípio de que para abordar o assunto é preciso discutir sobre desigualdades sociais, econômicas e o racismo estrutural, perpetuados pelas culturas e hierarquias organizacionais.
Como abrir caminho?
Para possibilitar esse caminho à riqueza, Cromar indica duas camadas complementares. A primeira é relacionada aos governos - seja federal, estadual ou municipal - para que sejam construídas lógicas de políticas públicas e regramentos que estimulem o empreendedorismo em todas as suas facetas, “inclusive no pequeníssimo empreendedor, que está começando a fazer algum tipo de atividade”.
Depois, direcionado ao setor privado, ele analisa como papel das empresas e do governo como um todo a construção de uma lógica de tributação que dê acesso aos benefícios sociais e derivados e, ao mesmo tempo, seja proporcionado um recorte diferenciado na questão tributária.
“O papel da esfera pública é lutar contra a desigualdade ou injustiça tributária, fazendo com que o microempreendedor não seja tão sobrecarregado de impostos”, avalia.
De outro lado, direcionando a questão ao ecossistema empresarial, Creomar ressalta que a contribuição deve ir além da discussão da importância da diversidade no ambiente do trabalho.
“É preciso uma sensibilização acerca de necessidades que são muito específicas, como, por exemplo, o prazo de pagamento para prestação de serviço, o estabelecimento de um sistema de abertura para cadastro de prestadores que são de regiões da cidade mais pobres ou para microempreendimentos gerenciados por mulheres e pessoas pretas”, elenca.
Com esses elementos, ele acredita ser possível encarar o gargalo da desigualdade de forma mais efetiva, criando mecanismos.
Papel da educação
Nesse acesso à riqueza, o especialista também fala sobre a importância de uma educação composta por uma camada voltada a finanças pessoais, empreendedorismo e também a questões de letramento racial, que são importantes.
“É uma sensibilização para uma agenda complexa, em um país que é sumamente desigual. Me parece que esses são elementos fundamentais para a gente superar esse tipo de desafio”, diz.