SÃO PAULO E BRASÍLIA - O setor agropecuário manifestou, em carta obtida pelo Estadão/Broadcast, preocupação quanto às declarações do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre a relação do Brasil com a China. A carta foi enviada por associações que integram o Instituto Pensar Agro como sugestão para a presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). O presidente da FPA, Alceu Moreira, decidiu não entregar a manifestação, depois de encontros com o governo e, principalmente, após a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciar uma missão para a China.
"A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) gostaria de externar a sua preocupação em relação às supostas declarações reproduzidas pelo noticiário nacional, nas quais teriam sido feitas afirmações no sentido de diminuir a importância das relações comerciais entre Brasil e China", diz a carta. Em aula magna para os alunos do Instituto Rio Branco, na semana passada, o ministro falou, entre outros tópicos, sobre a relação diplomática com a China. "Queremos vender, por exemplo, soja e minério de ferro, mas nós não vamos vender a nossa alma. Isso é um princípio claro que temos muito presente", disse.
"Muita gente quer que nós vendamos a nossa alma e muita gente não acha que tenhamos nenhuma alma para vender. E querem reduzir a nossa política externa a simplesmente uma questão comercial. Isso não vai acontecer."
A carta destaca que a China se tornou o principal parceiro comercial do País desde 2009. "O desenvolvimento da economia chinesa tem elevado as demandas dos produtos agrícolas brasileiros", diz a carta, ressaltando que o Brasil tem superávit de US$ 32 bilhões com os chineses e que os produtos mais exportados aos chineses são soja, celulose, carne bovina, frango, açúcar e algodão.
Visita
Por meio de sua assessoria, a presidência da FPA informou que Moreira fará uma visita oficial ao chanceler para apresentar a pauta do agronegócio. A reunião ainda não tem data, mas deve ocorrer após a visita oficial aos EUA. Moreira já teve reuniões com a ministra da Agricultura e com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
A carta assinala ainda que "o estabelecimento de uma agenda pautada no pragmatismo econômico é o único caminho possível para quem vislumbra o crescimento econômico de uma Nação". "Reiteramos nossa confiança em vossa capacidade para trilhar esse caminho, com a sensibilidade de que o agronegócio brasileiro não pode abrir mão de seus principais parceiros estratégicos, com quem mantém próxima relação comercial", aponta.